Experiência de Marca

Marcelo Spencer: Pedir “Não cancele, remarque” é pouco

COO da F/Malta avalia o momento de crise e sugere caminhos para evolução nas relações com o cliente.

A pandemia do novo Coronavírus pegou a todos de surpresa. Da noite para o dia tivemos que nos adaptar ao home office, eventos foram cancelados, milhares de pessoas perderam os seus empregos, e, muitos, principalmente do setor de live marketing não sabem precisar sobre o que aguardar do futuro.

Promoview tem realizado uma série de entrevistas com os donos das principais agências do setor para encontrar caminhos que possam amenizar um pouco dos problemas que esse mercado já vinha enfrentando há algum tempo, e, agora, mais do que nunca, está totalmente prejudicado.

Marcelo Spencer, da F/Malta, nos conta um pouco sobre o que sua agência está fazendo nesse período e as expectativas para o futuro.

Promoview: Qual o percentual de dependência da F/Malta sobre a receita de eventos (ou ações desta natureza) que foram canceladas neste momento? A queda na receita em relação ao que estava previsto é em qual percentual?  São só os eventos mesmo ou tem ativações (etc.) que foram suspensas?

Marcelo: 2020 era visto por nós como um ano de grande aposta da F/Malta, por conta de tudo que vínhamos construindo nestes últimos anos, fato este que nos proporcionou a recém-mudança à nossa nova sede, a MaltersHouse, que inauguramos agora em fevereiro.

Somado a isso, Q2 historicamente para nós sempre foi uma época de grande volume de projetos em execução, consequentemente, um quarter de grande relevância em faturamento e receita.

Tivemos cerca de 35% da receita do ano comprometida entre eventos cancelados e adiados. A boa notícia, por hora, é que a maior parte deles está sendo tratada como adiamento, mas ainda considero cedo para termos certeza se parte destes eventos será novamente adiada ou até mesmo cancelada, uma vez que nosso mercado será o último a retornar às suas atividades comuns.

Promoview: Como a agência está encarando esse período de pandemia?

Marcelo: Por um certo momento eu poderia dizer que já enfrentamos alguns projetos com características semelhantes: alterações a todo momento, mudanças de rotas, budget sendo cortado em real time, mas brincadeiras à parte, eu tenho dito para nossa equipe que estamos tendo a oportunidade de vivenciar o inédito e tenho certeza que momentos como este nos obrigam a nos reinventarmos de verdade e de forma rápida, até porque o “normal do futuro” não será igual ao “normal do passado”.

Estamos trabalhando a todo vapor em projetos proprietários que tragam significado para o agora e para o pós-quarentena.

Promoview: O que muda na produtividade da agência com o sistema home office?

Marcelo: Temos muito orgulho do time que formamos ao longo dos anos e nos consideramos uma grande família, sem querer soar clichê. Assim como toda família, também estamos sofrendo com a distância e isolamento, com a ausência das conversas de corredor, dos bate-papos, das comemorações de concorrência e do afeto que os ‘Malters’ têm entre si.

A maioria das pessoas tem reportado maior produtividade, mas também deixando claro a falta que faz estar lado a lado no dia a dia. O formato home office foi levado ao extremo, então, por um lado, isso acaba sendo positivo para reforçar cada vez mais que o equilíbrio é essencial.

Todo nosso flow de comunicação e infraestrutura já estava adequado para o modo de trabalho on-line, então, quanto a isso, estamos tendo zero problemas ou dificuldades. Acho que um problema que se agravou foi a disponibilidade de agenda de todos, uma vez que as videoconferências agora são o novo WhatsApp.

Promoview: É um modelo que deve ser utilizado com mais frequência pela agência, mesmo após a quarentena?

Marcelo: Fato é que o home office era tratado de uma forma mais discreta e sem grandes incentivos por parte da empresa, por acreditarmos que o trabalho presencial fosse mais efetivo. Com certeza agora temos um histórico muito positivo desse formato de trabalho, e podemos adotá-lo mais frequentemente, buscando sempre esse equilíbrio, como mencionei a pouco. Muitas vezes esperamos chegar o momento certo para assumirmos que estamos prontos para uma mudança, ao invés de colocarmos em prática e testar, então este já é um ensinamento imediato que a crise traz: não espere o momento que julgue ideal, arrisque, faça e insista até acertar.

Promoview: E sobre a atitude do marketing das empresas que contratam os serviços da sua agência?

Marcelo: Temos vivenciado um pouco de cada um desses cenários: empresas que já sinalizaram que não irão retornar seus eventos tão cedo, outras que já estão desenvolvendo conosco projetos para o segundo semestre, mas tudo isso ainda é uma grande novidade para todos. Não existe decisão certa, errada ou definitiva, o que está existindo é transparência e bom-senso entre todos os nossos clientes.

Promoview: Quais atividades produtivas (com faturamento) a sua agência está realizando neste período?

Marcelo: Hoje estamos com a maior parte do time trabalhando projetos no digital e com desdobramentos no live, afinal, jamais iremos perder a nossa essência de impactar as pessoas presencialmente. Novas condições foram implantadas, mas continuaremos buscando surpreender e aproximar as marcas dos seus stakeholders.

Promoview: Sobre as relações comerciais entre quem faz (agência) e quem compra (cliente) eventos, exposições, presenciais após este período?

Marcelo: Vão e precisam mudar. Logo no início desta crise, publiquei um artigo que abre exatamente esta discussão, que nosso mercado já se encontrava em crise e a pandemia apenas acentuou este problema. Estamos herdando práticas ultrapassadas, condições e formatos de trabalho não inteligentes ao que a atualidade exige, acredito que chegou a grande hora de olharmos para a cadeia toda e propormos melhorias visando benefícios a todas as frentes. Quem sabe não é essa a chance do grande marco zero para o mercado reagir.

Promoview: Em sua opinião, o que seria mais relevante caso mudasse após esta crise?

Marcelo: A situação em que o mercado se encontra não é reflexo de um ou dois itens, é um acumulado de medidas e práticas ultrapassadas que não se encaixam no cenário atual.

Como eu disse anteriormente, não existe um lado certo ou errado, todos nós, agências, fornecedores e clientes, temos nosso papel e responsabilidade em propor algo mais coerente e inteligente para construirmos um mercado mais sustentável.

Os modelos de concorrência precisam sim ser urgentemente revistos, as agências precisam adotar regras de participação e segui-las ao invés de esperarem isso vir do cliente. Quanto se investe para participar de uma concorrência que, muitas vezes, nem retorno temos do porquê o projeto não foi o escolhido, ou quantas alterações foram feitas até o desfecho da fase de concorrência? Não existe linha na planilha que cubra todas estas despesas.

Prazos de pagamento? Acho que este é o item que está mais em evidência, afinal, agora as agências estão vendo a falta que faz trabalhar com fluxos de caixa mais saudáveis, ter um giro mais rápido.

Enfim, o momento tem que ser visto com otimismo, acho que todas estas provocações para discussões são mais do que válidas, afinal, estamos tendo a oportunidade de finalmente arrumarmos a casa.

Essa crise já trouxe e ainda irá trazer grandes estragos ao nosso e tantos outros setores, cabe a nós lamentarmos ou nos reinventarmos.

Momentos como este possibilitam nos aproximarmos de toda nossa cadeia, de todo nosso ecossistema. Essa semana, a F/Malta lançou um movimento muito sincero e pertinente à situação: o ‘ALIVE MARKETING’, que é justamente gritar ao mercado que estamos mais vivos do que nunca, que o caminho não é apenas “não cancele, remarque”, é hora do mercado todo se falar, se aproximar, e, com isso, abrir novos canais.

Não é um projeto do qual queremos nos apropriar, estamos provocando as agências e fornecedores a abrirem este diálogo entre si, discutindo ideias, dividindo esforço de trabalho e até mesmo clientes que possam ser beneficiados com estas ideias, assim gerando mais chances de negócios, empregos e aproximando as marcas ao seu público.

Temos colocado este movimento em prática e nos surpreendendo com o engajamento das pessoas. Convidamos todos a quebrarem este isolamento corporativo que nos encontramos há décadas.

Reforço aqui, que sorte a nossa enfrentarmos momentos como este.