Experiência de Marca

<!--:pt-->Marchas e contramarchas no patrocínio de Escolas de Samba<!--:-->

Por exigência da Rede Globo, a Rosas de Ouro teve que modificar o nome do enredo e parte de seu samba para o desfile de Carnaval deste ano. De "Cacau é Show", o enredo se transformou em "Cacau: Um grão precioso que virou chocolate sem dúvida se transformou no melhor presente!". A palavra "chegou", por sua vez, veio substituir o "show" no refrão da escola que, mesmo com tanta polêmica, acabou levando o título de campeã no Carnaval 2010 de São Paulo.

Os patrocínios as Escolas de Samba no Carnaval de 2010 tiveram resultados distintos, causando embaraços e confusões nos bastidores, variando entre sucesso e resultados negativos. As escolas que decidiram homenagear Brasília e seu cinquentenário iniciaram o feriadão de Carnaval sob o impacto da prisão do governador da capital federal. Constrangidos, os dirigentes das agremiações preferiram minimizar declarando que o enredo focou a inauguração da sede do governo brasileiro, como se fosse possível dissociar os assuntos.

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Já em São Paulo, por exigência da Rede Globo, a Rosas de Ouro teve que modificar o nome do enredo e parte de seu samba para o desfile de Carnaval deste ano. De “Cacau é Show”, o enredo se transformou em “Cacau: Um grão precioso que virou chocolate sem dúvida se transformou no melhor presente!”. A palavra “chegou”, por sua vez, veio substituir o “show” no refrão da escola que, mesmo com tanta polêmica, acabou levando o título paulista no Carnaval 2010.

É fácil remeter tanto o enredo quando a letra à Cacau Show, marca de chocolates que conta com mais 750 lojas franqueadas espalhadas pelo País. O enredo, inclusive, foi baseado no livro “O cacau é show”, de Alexandre Tadeu da Costa, presidente da companhia, que nasceu no bairro da Casa Verde, próximo à sede da escola.

A marca foi apoiadora da escola e teve uma ala especial. O desfile contou a história do fruto do cacaueiro, que já foi bebida, moeda e que nos tempos modernos passou a se transformar no chocolate como conhecemos.

Componentes desfilam com roupas que lembram o cacau.
Componentes desfilam com roupas que lembram o cacau.

A presidente da escola, Angelina Basílio, negou o patrocínio da marca de chocolates Cacau Show: “Não foi patrocínio. Foi uma parceria de R$150 mil que serviu como ajuda de custo para as fantasias, materiais de escritório e para as trufas que foram distribuídas para o público”.

Ao todo, a escola gastou R$1,8 milhão, sendo R$503 mil recebidos da prefeitura. “Marrom é a minha cor da sorte. Marrom é a cor do pai Xangô que significa justiça e acabou me dando sorte também”, disse Angelina. “Cacau é show era o refrão inicial da música, mas pediram para mudar para não soar como patrocínio e consegui convencer a comunidade de mudar uma palavra só”, completou.

Já no Rio de Janeiro as escolas com enredos que foram à mídia exaltar este patrocínio não tiveram a mesma sorte que a Rosas de Ouro.

Com um enredo difícil e mal executado (pobre e pouco criativo), a Portela não se saiu muito bem na segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval carioca. A escola decidiu falar da inclusão digital como forma de aproximar as pessoas de diferentes classes sociais e desfilou fantasias inspiradas no mundo dos computadores, tão repetitivas quanto de difícil compreensão.

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Embora chegasse ao Sambódromo com a pompa de favorita, a Portela, uma das mais tradicionais do Rio, destoou com um desfile frio, em que abordava a inclusão digital. Fantasias ‘tecnológicas’, sem os recursos das plumas e paetês, e um visual futurista, de criatividade duvidosa, não funcionaram na avenida, e a estreia da dupla de carnavalescos na escola, Alex de Oliveira e Amauri Santos, foi um fracasso e a escola teve que amargar uma das últimas posições, que teve a Unidos da Tijuca como grande vencedora do Carnaval do Rio de Janeiro em 2010.

A ideia era explorar as possibilidades da internet, que foram tangibilizadas em alegorias que mostraram a instalação de banda larga em favelas ocupadas e pacificadas pela polícia. A maioria das alegorias  pecou pela extrema simplicidade e outras, pela difícil associação com o enredo. Nas alas, fantasias lembravam recursos do computador, como “atalho”, “arquivos”, “senhas”.

O samba, que tem entre seus autores o sambista portelense Diogo Nogueira, não foi considerado um dos melhores deste ano. O presidente da Portela, Nilo Figueiredo, sabia que o enredo era desafiador. “Não é difícil de entender, mas é difícil de desenvolver. Só tem que se temer se não há recursos, e esse até é o nosso caso. Mas vamos trabalhando”, disse Figueiredo, minutos antes do início do desfile. A falta de dinheiro (apesar do patrocínio da Positivo Informática, maior fabricante brasileira de computadores, citada indiretamente no samba) era visível: as fantasias estavam mal acabadas, com peças caindo, e faltaram adereços para alguns componentes.

Acadêmicos da Grande Rio também não conseguiu dar o “retorno espontâneo” para sua patrocinadora AmBev e o que se espalhou pela mídia não pode ser considerado positivo, apesar da escola ter ficado com a segunda colocação.

A primeira atitude antipática veio dos organizadores do próprio Camarote Nº1, que neste ano vetaram uma série de sites e blogs que normalmente fotografavam o espaço. O argumento é que as imagens seriam “banalizadas” o que poderia tirar o interesse de “grandes” veículos de comunicação em exibi-las.

E quem acompanhou a transmissão do desfile da Grande Rio, na madrugada da terça-feira (16/02), não pôde escutar uma parte do samba enredo. O tema da escola foi o Camarote Brahma, que completou 20 anos em 2010. A questão é que a TV Globo foi patrocinada, no Carnaval, pela Nova Schin.  Para não entrar em conflito com a marca que pagou uma pequena fortuna para anunciar durante sua programação carnavalesca, a emissora baixou, descaradamente, durante todo o desfile, a voz do intérprete Wantuir no momento em que ele dizia “Camarote número 1”. Ou seja, para quem viu na Globo, o samba enredo da Grande Rio tinha um buraco na melodia. O refrão correto é “Eu sou guerreiro, sou brasileiro e faço meu ziriguidum. Vibra arquibancada, explode… O camarote número 1”.

Bateria da Grande Rio vestida como o gari Sorriso, famoso personagem do carnaval carioca e garoto propaganda da Brahma
Bateria da Grande Rio vestida como o gari Sorriso, famoso personagem do Carnaval carioca e garoto propaganda da Brahma.

Talvez tentando compensar, a Grande Rio  “esqueceu” de tirar a logo da marca Brahma dos empurradores das alegorias. Prestes a entrar na avenida, a produção da marca de cervejas usava sprays para esconder a logo das camisas. Um jornalista, que estava próximo às arquibancadas do mangue viu e tirou uma foto. A produção da Brahma e a direção da escola ficaram revoltados.  Um produtor tentou agredir e tirar a máquina do repórter.  O jornalista correu pelo meio da escola e conseguiu chegar próximo de outros colegas de profissão que pegaram a máquina antes que a direção chegasse até o jornalista. Homens com uniforme da escola revistaram o repórter e tentaram encontrar a máquina a todo custo, mas não encontraram.

Os fatos devem pesar na decisão dos marqueteiros que pensam em se aventurar com patrocínios de escolas no próximo Carnaval, pois já não se consegue fazer emboscada com a facilidade de outros tempos.