Experiência de Marca

Para não dizer que não falei das flores

Não consigo me livrar dos temas pesados e trabalhar o pensamento visionário sobre o live marketing.


Toda semana uma cacetada. Meus artigos no Promoview parecem o programa do Gregorio Duvivier, na HBO. O GregNews

Começou levinho, bem humorado, e com os efeitos radicais do vírus cada edição fica mais soturna que a outra.

O Duvivier parece à beira da depressão, isolado na casa da mãe, a ótima Olivia Bygton, com o irmão, a mulher e a filha.

Na mesma linha, não consigo me livrar dos temas pesados e trabalhar o pensamento visionário sobre o live marketing, objeto da atenção e vocação deste Promoview.

Porque se “já não tava fácil para ninguém” antes do Coronavírus, agora, então, com meses de ação do vírus e um ano e meio de um quadro político acerca do qual minha opinião é conhecida e desfavorável, quase não dá pra respirar.

Porém, como resmungava o falecido João Saad nos corredores da rádio e TV Bandeirantes, ao constatar que as apurações do jornalismo das suas emissoras traziam apenas notícias ruins, sempre nasce uma flor.

Verdade.

Elas nascem.

E a que me inspira hoje é uma lição de live experience.

Nós, do live marketing, atendendo as melhores contas, dos melhores clientes, temos diante de nossos olhos, debaixo de nossos narizes, um case fabuloso e espontâneo nascido no subúrbio da Penha, no Rio de Janeiro.

A sambista Teresa Cristina, que tem uma carreira já de duas décadas e transita pelo ambiente artístico carioca, principalmente, começou a fazer uma live diária logo no início da pandemia.

Todos os dias, por volta das 22h, ela vai ao ar, no perfil do  Instagram @teresacristinaoficial. E segue até uma da manhã.

Sempre há um tema, e alguns são recorrentes. “Trilha de novelas”; “Noite autoral”; desafio (quando ela e Mônica Salmaso interpretam canções em sequência “desafiando” uma a outra). Já houve noites LGBTQIA+; homenagem a Tom Jobim, a João Bosco, a música do Nordeste. Enfim, um tema, para ancorar a noite.

A produção nem pode ser chamada de paupérrima. É inexistente. Consiste nela, sentada em sua casa, com a ajuda eventual de um sobrinho, tomando cerveja (ou vinho) e comendo amendoins ou salgadinhos, cantando, e, principalmente, recebendo convidados virtuais, que também cantam canções ligadas ao tema da noite.

E que convidados!

A live de Teresa Cristina reúne, na audiência e no line-up meio aleatório (ela escreve num papelzinho as pessoas que quer chamar), o biscoito fino da inteligência artística nacional.

Bebel Gilberto, Dora Jobim, Jaques Morelenbaum, Caetano Veloso, Chico Buarque, Preta Gil, Zelia Duncan, e muitos outros famosos, semifamosos, futuros famosos ou apenas apaixonados pela arte circulam pela live. De graça. Sem cachê, sem produção, sem pretensão. E com muito gosto.

A caixa de comentários é tão quente quanto a própria live.

E os temas musicais, aliados às conversas, transformaram o evento diário num espaço privilegiado da cultura brasileira.

E natural. Ela passa batom enquanto o convidado canta. Pede licença para ir banheiro e você a vê levantar, ir até o banheiro e voltar em seguida. E entre um gole e outro de cerveja de repente Marisa Monte entra em cena.

E Teresa se emociona. Chora, ri solto. E as pessoas, em suas casas, emocionadas e agradecidas, já se denominam “Cristiners”, e na paralela da live já surgiu um “Cristinder”.

Todo dia embarco nesse oásis de poesia e acalanto e fico me perguntando onde estão os empresários de live marketing, produtores culturais, marcas, redes de TV, portais de internet, que não se apresentaram para apoiar isso e legitimamente beneficiarem-se da imensa empatia que jorra direto da Penha para o mundo ao longo de três horas diárias.

Fosse eu empresário musical, assistiria, diariamente, com um caderninho na mão, porque é tal a quantidade de artistas desconhecidos e de talento excepcional que aparecem para cantar músicas do tema da noite, ou, no caso das edições autorais, suas próprias canções, que impressiona. Mesmo.

Tanto quanto a ausência de marcas, produtos e serviços que poderiam ajudar a regar uma das poucas flores que brotaram no pântano da pandemia.