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Janeiro Branco: em pauta, nossa saúde mental

É preciso garantir que cada uma das pessoas esteja produtiva e equilibrada para evitar perdas irreparáveis de talentos

*Por Samanta Lopes  

Janeiro Branco, você conhece essa iniciativa? Começou em 2014, criada por psicólogos de Uberlândia (MG), e está atrelada ao mês em que muitas pessoas definem metas para todo o ano, olham o que houve no anterior e fazem uma análise para saber o que precisa ser melhorado. 

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Aqui, usou-se a alegoria de um ano novo como uma ‘página em branco’, ou seja, um espaço para ser criado a partir do que a sua imaginação permitir. Permitir-se a ser mais feliz, mais leve, mais saudável, talvez uma pessoa menos crítica, enfim, buscar uma versão de si e de uma vida melhor do que a do ano anterior.  

E tudo isso depende da saúde mental das pessoas 

Nas empresas, esse tem sido um tema recorrente. Algumas criaram comitês focados para lidar com os desafios de implementar ações diferenciadas, gerir uma nova cultura que cuide da saúde mental das pessoas colaboradoras, inclusive elaborando estratégias para prevenir o estresse e a síndrome do burnout

Em um tempo de tantas incertezas, medos e eventos desconhecidos, a sociedade transita entre os mundos VUCA e BANI. Assim, o futuro pede um olhar mais atento para as equipes, e é preciso garantir que cada uma das pessoas esteja produtiva e equilibrada para evitar perdas irreparáveis de talentos por falta de um ambiente mais humanizado, saudável, diverso e colaborativo. 

Dentro do âmbito pedagógico, entendemos que os indivíduos direcionam suas energias para mudar algo quando se julgam em três situações: ameaçadas, acolhidas ou ignoradas. 

Basta olhar para uma criança brincando perto da pessoa cuidadora: se ela tem medo ou acha que está fazendo algo que acabará em castigo, geralmente fará isso fora do olhar do cuidador; diferentemente de quando ela acredita estar fazendo algo bonito, que lhe dá orgulho, quando até convida a pessoa para brincar com ela. 

E, quando se sente ignorada, geralmente usará de birras, quebrará itens, fará algo que chame a atenção de forma negativa, porque está irritada com a indiferença que percebeu. A atitude apática vem do senso de derrota, uma criança segura e feliz raramente será assim.  

O mesmo acontece quando estamos na empresa e em nossas vidas. Geralmente, as pessoas colaboradoras tentam dar o seu melhor, querem ser reconhecidas pelo que fazem e não têm medo de atuar em projetos nos quais sintam que seu desempenho será excelente; o contrário acontece quando são colocadas em situações nas quais não sentem respaldo — têm a sensação de ameaça ou de que ninguém as ouve —, ignoradas. 

Atuar em uma cultura que pensa na saúde mental das pessoas colaboradoras é prever esse tipo de situação e criar uma descrição de tarefas, desde a contratação com índices claros de avaliação, metas, critérios de premiação e até de penalização, com regras explícitas tanto para o caminho do desligamento quanto para as chances de migração entre áreas e promoções.  

Conversar em intervalos de dois a três meses para avaliar junto à pessoa e aos seus pares para alinhar expectativas e resultados é fundamental. Esse tipo de atitude garante que o desligamento de uma pessoa seja por sua performance e não por questões subjetivas. 

Além disso, permite que a rota possa ser ajustada, durante um período, através de ações mais customizadas para cada caso. Dessa forma, se o desligamento chegar a ocorrer, há mais chances de ser aceito como imparcial em vez de deixar muitas dúvidas, principalmente quando abordamos grupos minorizados ou temos empresas muito hierarquizadas. 

Vamos a um exemplo: uma mãe não tem com quem deixar seus filhos durante o dia, mas a empresa exige que a profissional esteja presencialmente no escritório em horário comercial, mesmo que ela seja da equipe de limpeza ou tenha um cargo administrativo. 

Se a sua presença fosse flexibilizada para que realizasse as atividades durante a noite ou remotamente seria possível que ela tivesse alguém cuidando das crianças quando exercesse sua função, ao invés de, por medo de perder o trabalho, colocasse as crianças sob cuidados de pessoas não profissionais ou optasse por deixá-las sozinhas, submetendo-as a vários riscos. 

Se esta última situação ocorrer, essa mulher sofrerá em sua saúde emocional, mental e, no médio prazo, terá sua saúde física comprometida. 

Ou seja: acabará em péssimas condições. Portanto, se não houver na gestão da empresa um cuidado em entender esse cenário, a colaboradora e sua família sofrerão. Infelizmente, muitas organizações optam por simplesmente nem contratar, e pior, demitem em casos de gravidez e, assim, tudo fica contra essa família. Entender cada contexto é fundamental para garantir a saúde desse pequeno núcleo e, consequentemente, de uma sociedade.  

Então, quando falamos em saúde mental, não estamos falando em cuidar apenas daquela pessoa colaboradora que descobrimos ser usuária de drogas (sejam lícitas como álcool e tabaco ou ilícitas), e que muitas vezes não tem nenhuma vontade de realmente abandonar esse uso. 

Estamos falando de pessoas que se blindam para não sofrer opressões por serem quem são. Um bom exemplo desse tipo de “blindagem” é quando um colaborador ou uma colaboradora pede o comprovante de residência emprestado a uma tia por medo de ser negada a vaga, porque o CEP em que vive exige que use mais conduções do que outras pessoas para chegar ao trabalho, ou até pela fama da comunidade em que mora, considerada como região de marginalidade. 

Também estamos falando das pessoas que têm deficiência, e que por esta não ser tão aparente, omitem o dado para não serem colocadas em trabalhos de cotistas e terem oportunidades como as outras. Incluímos aquelas pessoas que nunca falam de suas vidas pessoais por medo de serem mal interpretadas em suas escolhas pessoais afetivas, ou por receio de informar que convivem com alguém que precisa de cuidados diferenciados, como uma mãe com Alzheimer.  

O ambiente seguro, o alinhamento transparente de expectativas, as condições dignas de trabalho, o respeito e a possibilidade de protagonismo são fundamentais para garantir às pessoas colaboradoras um ano de atuação plena e com resultados de entrega de excelência. 

Não digo que teremos um mundo perfeito, mas certamente mais humanizado e com pessoas mais comprometidas em serem parte de um resultado melhor. Isso porque, para todas, a empresa é realmente um lugar onde passam a maior parte de suas vidas, portanto, deveria ser um lugar onde sentem prazer em estar, de poder ser quem são, exercitando seu melhor potencial.  

Vamos falar sobre ações para melhorar a saúde do time durante o ano começando no Janeiro Branco?