ESG

Como a Moda lida com o ESG

O circuito fashion tem adotado regras para ajustar empresas ao ambiental, social e gerencial.

O circuito da moda está aplicando as regras de ESG, seja como uma maneira de reduzir o impacto da imagem de agente poluidor seja para se colocar dentro da dinâmica mais atualizada da fabricação e comércio fashion. 

O consultor em design estratégico Rodrigo Cezário é especialista no tema, e já realizou palestras e workshops pelo Brasil inteiro a respeito da questão.

Rodrigo Cezário já realizou palestras e workshops no Brasil inteiro sobre a questão ESG. Foto: Divulgação

Segundo ele, a governança ambiental, social e corporativa (ESG) é uma abordagem para avaliar até que ponto uma corporação trabalha em prol de objetivos sociais que vão além do papel de uma organização para maximizar os lucros em nome dos sócios da empresa. 

De acordo com o especialista, os objetivos sociais defendidos dentro de uma perspectiva ESG incluem trabalhar para alcançar um certo conjunto de metas ambientais e objetivos relacionados ao apoio a certos movimentos sociais, além de um terceiro conjunto de objetivos relacionados ao fato de a empresa ser administrada de forma consistente com os movimentos de diversidade, equidade e inclusão.

No caso da aplicação desses conceitos ao universo da moda, ele explica que o jeito de fazer moda ou de participar de qualquer atividade econômica, hoje em dia, exige responsabilidade social com o meio ambiente e com o modo de gerir a empresa. 

Há diversas ações que podem ser aplicadas dentro da empresa, não importa se ela for de pequeno, médio ou grande porte. 

“A moda é considerada uma grande vilã quando falamos em questões ambientais, mas podemos reverter essa imagem e se transformar em protagonista da mudança. Desde a utilização de materiais mais sustentáveis, passando pela utilização de fontes de energia renovável, até a redução de emissão de carbono, podem-se aplicar várias práticas, muitas vezes simples e até lucrativas”, afirma.

Na questão ambiental, as empresas podem partir da eliminação ou redução do plástico. 

“Sacolas de papel e copos de vidro no ponto de venda são bons começos. Podem também contratar serviços de entrega de bicicleta nas regiões próximas. Um dos maiores problemas da indústria de confecção, hoje, é o descarte de resíduos com o lixo normal. Precisamos cuidar dessa questão com urgência. Uma alternativa é reaproveitar sobras de tecidos já cortados, e sobras de aviamentos, construindo com eles novos produtos com valor agregado. A origem também é importante, as empresas podem planejar uma pequena linha exclusiva, feita só com tecidos reciclados, ou de fibras naturais, ou de algodão orgânico. Sugiro sempre começar a criação da coleção dando uma cara nova para o que já está no estoque antes de comprar novos materiais”, aponta.

No âmbito social, as empresas precisam contratar funcionários e colaboradores, respeitando a inclusão de gênero, de raça, de orientação sexual e também geracional. Ainda, elas precisam promover a remuneração justa e igualitária. 

“Aqui eu ressalto a importância de se pensar nas necessidades dos colaboradores, como as mulheres mães, e oferecer condições para que elas conciliem o trabalho com a maternidade. Também é possível desenvolver trabalhos sociais com a comunidade onde está inserida. Tenho um cliente que oferece oficinas de costuras para as mulheres carentes do bairro onde está instalado o ateliê. Ali, ele ensina a utilizar os seus resíduos para fazer artesanato e, dessa forma, promove uma fonte de renda para essas pessoas, além de envolver os colaboradores na ação social”, completa Rodrigo.

O consultor destaca que quando se fala em governança, falamos da excelência na gestão do negócio, da busca pela conformidade com leis e normas e da transparência. 

“Uma boa conduta gerencial faz com que o negócio seja mais ético e responsável. Dessa forma, podemos mencionar a contratação de fornecedores e colaboradores terceirizados que tenham integridade. Internamente, a empresa deve ter uma hierarquia bem definida, com cargos e funções determinados e criar políticas claras que garantam a segurança e integridade de dados pessoais dos clientes, por exemplo”, declara.

Por fim, ele recorda que há alguns pontos mais difíceis para as empresas alcançarem nos objetivos de ESG, como a resistência na adoção de práticas relacionadas à sustentabilidade ambiental. 

“Ainda existe uma crença de que os materiais sustentáveis são mais caros, apesar de eles agregarem maior valor ao negócio. O descarte também precisa ser repensado, principalmente nos polos confeccionistas, para que se busquem soluções conjuntas para o descarte adequado”, conclui.

Ele finaliza apontando que determinados mercados, como a União Europeia, estão muito engajados com as questões relacionadas à crise climática, por exemplo, e buscarão fazer negócios com empresas que demonstram a mesma preocupação e mantêm ações sustentáveis efetivas e não somente para fomentar o marketing da empresa.