Experiência de Marca

Quem disse que BBB não é para os inteligentes?

Atribuir meramente ao BBB um estado catatônico de bloqueio de aprendizado não só é errôneo, como também se trata de uma visão superficial sobre o assunto.


Todo ano temos um BBB e junto a ele chegam os seres mais cultos deste Brasil. Estes, que bradam aos quatro cantos do país a sua preferência pela leitura, pelo estudo da música clássica e dos esquecidos poemas de Trostky.

Todo ano, em meio à toda loucura e balburdia do país, os brasileiros param para acompanhar a – literalmente – casa mais vigiada do Brasil. 

Estou falando de uma boa parte da população, quiçá grande maioria, que consome vez ou outra algo relacionado ao BBB ao longo das edições.

Para se ter ideia, o paredão falso com a atriz Carla Diaz bateu recorde de audiência, algo parecido aconteceu na final do BBB 18. Além disso, no segundo dia de “BBB21”, a Globoplay bateu o seu recorde histórico de vendas. Os números de novas assinaturas foram 11 vezes maiores do que a média.

Não podemos inferir críticas ao BBB dada a sua realidade repetitiva, rotineira e que pouco agrega. Devemos ressaltar que muitos – se não maioria – dos programas e conteúdos contemporâneos em nada também inovam.

As tragédias nos programas sensacionalistas sempre se repetem, as mensagens nas músicas da rádio se tornam clichês comuns e até mesmo as fofocas da família já não trazem novidades.

Atribuir meramente ao BBB um estado catatônico de bloqueio de aprendizado não só é errôneo, como também se trata de uma visão superficial sobre o assunto.

Há muito mais a ser analisado, debatido e explorado através das imagens destas câmeras. Cada ação, interação e polêmica ali são únicas, em um contexto onde a privacidade é inexistente e o Brasil pode acompanhar, 24 horas por dia, o que seria o comportamento humano em sua forma mais pura.

Como marketeiro, vibrei ao assistir uma ação como a do Mc’Donalds no programa. A festa do pijama, segundo João Branco, CMO da marca, manteve seis posições simultâneas nos trending topics do Twitter no Brasil, além disso, os pijamas da festa fizeram tanto sucesso que serão vendidos. Dizem por aí, que conseguiram também, travar o iFood. Todo mundo com fome de Méqui. 

A audiência e a capacidade de impactar todas as classes fizeram desta edição um sucesso ainda maior para as marcas. Outro exemplo é a ação de Páscoa com a Lacta. A marca esteve presente na famosa Prova do Anjo e, assim que a ação foi veiculada, um dos ovos escolhidos foi esgotado no site.

Ou seja, a atração tem dominado o mercado, além das redes sociais, e isso atinge diretamente as empresas que estão visíveis durante o reality. O valor que cada marca precisa pagar pela cota máxima vem crescendo ao longo dos anos e, atualmente, custa R$ 78 milhões – injetados por empresas como Pic Pay, Avon, Lojas Americanas, Seara, C&A, Amstel e Mc Donald’s.

Mas saindo desse universo do marketing, debater sobre as polêmicas envolvendo os participantes da casa, se questionar sobre atitudes tomadas durante uma festa ou outra, ou até mesmo avaliar escolhas para um paredão, não são de forma alguma bate-papos frívolos e superficiais.

Estamos falando da reflexão e da análise de atos humanos alheios e no período mais importante possível, que é o atual. Há hora melhor para refletirmos sobre quem somos e o que fazemos se não o agora?

Será que se manter alheio às novidades e tendências do cotidiano é a melhor forma de viver em sociedade? De forma alguma há de se negar a importância do enriquecimento cultural e da valorização do conhecimento de gerações passadas, mas convenhamos que as polêmicas do programa são repletas de reflexões.

Você pode – e deve – mergulhar nas obras de Machado de Assis e Ariano Suassuna, mas está tudo bem, assistir BBB e não querer aprender sobre nada. Seu passatempo é você quem diz, e sinceramente, para esse momento catastrófico que estamos vivendo, quando mais besta for, melhor.

Talvez Arnaldo Jabour esteja certo: Seja um idiota…