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Paralisação histórica do varejo

Como em meio a uma pandemia, onde a ciência ainda não conseguiu domá-la, se encaixa a tão esperada reabertura dos shopping centers?

Muito se tem falado na mídia sobre a contraposição entre saúde e economia. Paradigma difícil e sem solução fácil. 

Comerciantes e varejistas devem tentar diminuir esse impacto sobre seus negócios sem descumprir as normas sanitárias. Como em meio a uma pandemia, quando a ciência ainda não conseguiu domá-la, se encaixa a tão esperada reabertura dos shopping centers?

Atuo nesse mercado de shopping centers há quase 30 anos. Passamos por inúmeras crises econômicas, políticas e sociais, mas em momento algum enfrentamos um cenário de impotência com essa magnitude mundial. 

Sinto como se estivesse entrado em um labirinto com olhos vendados e devesse encontrar a saída. Para quem é do varejo, criatividade e flexibilidade são qualidades intrínsecas, desde que as portas estejam abertas. 

Varejista é como criança, tem uma energia contagiante quando está brincando. O problema é trancar esta criança em casa, cercear sua atividade, “sequestrar” sua liberdade de atuação. E aqui começam os dilemas.

De um lado o varejista: Como lidar com o estoque parado? Com a nova coleção? Com pedidos cancelados? Com os funcionários? Com os fornecedores exclusivos? Com clientes? Com os aluguéis dos pontos comerciais? Com todos os custos fixos? De outro, os administradores e empreendedores de shopping centers que estão perdendo seus recebíveis pouco a pouco.

Agora é o momento de muita responsabilidade, de tomar decisões com o pé no chão, principalmente no varejo, que emprega muito. Uma pessoa desempregada no varejo gera uma cascata que atinge pelo menos outras cinco. 

É o momento de lançar mão dos programas governamentais que foram disponibilizados, dar férias, compensação de banco de horas, licença, suspensão. Tudo é válido na tentativa de minimizar as demissões e estar preparado para a retomada.

Certamente uma das grandes aflições dos shopping centers envolve a questão de como lidar com os aluguéis dos imóveis comerciais de suas lojas, custo fixo de condomínio e arrecadação do fundo de promoção. 

Para os lojistas, cuja atividade foi compulsoriamente paralisada, a revisão do contrato ou, no limite, a sua extinção sem multa, se torna uma possibilidade concreta. No entanto, qualquer ação de longo prazo agora poderá ser mal dimensionada, pois ainda faltam muitas informações e os ânimos estão muito acirrados. 

O melhor a fazer, e o que tenho presenciado, são livres e individuais negociações, entendendo que as demandas e necessidades dos lojistas são diversas: deve-se abrir um canal de negociação, considerando a individualidade de cada shopping e lojista. 

Tais negociações devem sempre se basear no bom senso e razoabilidade de forma a evitar a judicialização de contratos. No geral, os franqueados e pequenos comércios apresentam grande sensibilidade de fluxo de caixa e demandam mais ajuda dos franqueadores, locadores e Bancos.

De acordo com a Abrasce – Associação Brasileira de Shopping Centers –  apenas as medidas dos empreendedores e lojistas não bastam. É preciso medidas contundentes dos governos nas esferas municipal, estadual e federal. Algumas das anunciadas até agora pelo Governo Federal ainda precisam ser aprovadas e as que foram implementadas não vieram na velocidade e intensidade necessárias.

Desta forma, o diálogo com lojistas, fornecedores, colaboradores e poder público tem se dado continuamente na busca de ações para a sobrevivência das empresas e para a manutenção dos empregos. “O momento precisa de serenidade, visão holística, assertividade e celeridade na tomada de decisões.”, ressalta Glauco Humai, presidente da Abrasce. 

No paralelo desta engenharia financeira, surgem novas formas de se angariar receita. Verificamos uma corrida ímpar para o e-commerce e o drive thru, o que contribui para a sobrevivência de várias atividades, mas deixa à deriva entretenimento, lazer, eventos, turismo, entre outros.

Ainda não é possível mensurar todos os impactos da pandemia em nenhum aspecto. Responsável por quase 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e mais de 3 milhões de empregos diretos e indiretos, os 577 shoppings com mais de 150 mil lojistas estão sofrendo os efeitos dessa crise e começam a se preparar para a reabertura seguindo protocolos de higiene rigorosos.

No momento presente, o mundo vive duas preocupações, primeiro, combater o vírus, e, depois, diminuir um pouco o impacto econômico, ficando atentos ao tão falado “Novo Normal”: mudanças de comportamento causadas pela crise que podem gerar inovação e oportunidades contrapondo as irreparáveis perdas.

Desejo a todos muita inspiração para esse momento de retomada.