No dia 08/12, um grupo de 60 grafiteiros concluiu, ao longo de um quilômetro de muro, na Avenida dos Andradas, no bairro São Geraldo, um painel coletivo iniciado na sexta-feira (06/12).
Trata-se de mais uma obra para o acervo da imensa galeria de arte a céu aberto em que Belo Horizonte se transformou a partir de meados dos anos 1990, com a expansão do grafite e a consolidação, ao longo da década passada, de alguns artistas que se tornaram grifes.
Binho Barreto, Dalata, Denin, Raquel Bolinho, Hyper, Wagner “Vishnu” Braccini, Thiago Alvim, Zack e Viber são apenas alguns dos nomes que deixaram e ainda deixam suas marcas registradas espalhadas por Belo Horizonte: grafites “de autor”, facilmente identificáveis, e que tornam a cidade mais colorida e pulsante.
Alguns deles já não mantêm a mesma rotina de grafitagem de alguns anos atrás, porque diversificaram suas atividades artísticas, mas a trajetória e o traço de cada um ajudam a contar a história da arte de rua na Capital mineira.
É o caso de Binho Barreto, que começou a grafitar em 1996, deu uma pausa na década passada, porque, conforme diz, estava em crise com o grafite, e retornou com um foco melhor definido.
Artistas que estão há mais tempo na atividade das ruas, como Denis Leroy, o Denin, que começou a grafitar em 1990, são testemunhas da evolução dessa forma de expressão na cidade.
“O panorama mudou bastante, principalmente em função de material. Dos anos 2000 para cá, novos fabricantes de tinta chegaram ao mercado, então, hoje a galera trabalha com tinta importada, específica para grafite, o que contribui para o aprimoramento da técnica. E no estilo também houve muita mudança, uma abertura. Hoje, a linguagem do grafite é bem mais rica em termos de variedade. Antes era muito ligado só à cultura hip hop”, diz Denis.
Mas nem todo mundo vê essa popularização e expansão do grafite com bons olhos. André Gonzaga, o Dalata – um nome sempre lembrado por seus pares –, fala em banalização da linguagem.
“Hoje tem vídeo tutorial na internet ensinando como fazer grafite. A quantidade de material que se tem atualmente é infinitamente superior ao que tinha há dez anos, quando a gente improvisava com tinta para automóvel, por exemplo. Hoje em dia não existem barreiras como existiam, é mais fácil sair na rua e conseguir uma parede para pintar, todo mundo sabe o que é grafite e o próprio poder público tem uma tolerância maior. Então acho que gerou uma banalização mesmo. Não vejo que o aumento quantitativo corresponda ao qualitativo”, diz, ressaltando a necessidade de consolidação de estilo.
Fato é que os grafites de autor estão por toda a cidade, com uma concentração grande na região Centro-Sul, mas também, por exemplo, na Pampulha, onde Wagner “Vishnu” Braccini preferencialmente cria suas obras, no Taquaril, região tomada pelos grafites de Nilo Zack e Lídia Viber, ou mesmo em espaços mais resguardados da apreciação pública.
Fonte: Daniel Barbosa/O Tempo.