De que maneira as cidades, a sociedade e as empresas estão se preparando para enfrentar os impactos das mudanças climáticas nos próximos anos? Esta foi a principal questão debatida em três painéis realizados no sexto Fórum Mundial de Meio Ambiente, no Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Em dois dias de debate (25 e 26/06), o evento, promovido pelo Lide – Grupo de Líderes Empresariais, presidido por João Doria Jr., e pelo Lide Sustentabilidade, comandado por Roberto Klabin, reuniu 365 participantes, entre ambientalistas, empresários, políticos e autoridades.
No segundo painel do Fórum – O papel do Poder Público – Como as cidades estão se preparando para as Mudanças Climáticas, Silvio Barros, secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Governo do Paraná, falou sobre os desafios dos municípios nos próximos anos, quando o consumo de energia e a geração de lixo devem aumentar 30%.
Foto: Gustavo Rampini.
“Que modelo vamos gerar para consumir 30% mais de energia em 2050 e que impacto isso terá?”, indagou. Em sua opinião, a discussão de temas como a matriz energética é papel de toda a sociedade. “Todos precisamos assumir a responsabilidade, nos mobilizarmos e nos unirmos”, afirmou.
A secretária do Meio Ambiente de São Paulo, Patrícia Iglecias, destacou as políticas públicas do Estado paulista para mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas. Segundo ela, o Estado foi o primeiro no mundo a ser reconhecido pela ONU como “estado resiliente”, em razão de programas como o Município Verde Azul, que tem como objetivo estimular as prefeituras paulistas a elaborarem e executarem políticas públicas de desenvolvimento sustentável.
“O Estado está fazendo sua lição de casa em todos os temas fundamentais para a questão das mudanças climáticas”, afirmou Patrícia.
A secretária-executiva do Iclei – Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais, Jussara Carvalho, disse que as cidades estão se preparando para o futuro por meio de uma serie de iniciativas na área de mobilidade, de resiliência, entre outros de projetos sustentáveis.
“Mas precisamos de mais, precisamos de apoio do governo federal também, como na questão energética”, observou. “Não adianta os prefeitos promoverem mudanças sustentáveis quando há no País incentivos para uso de combustíveis fosseis.”, declarou Jussara.
Também participaram do painel o diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani; o presidente do Lide Sustentabilidade Roberto Klabin; o presidente do Lide Argentina, Rodolfo de Felipe e diretor-presidente da Sanepar, Mounir Chaowiche.
O Papel Dos Cidadãos
No terceiro painel do Fórum – O que os cidadãos estão fazendo?, o fundador da Virada Sustentável, André Palhano, falou de uma nova forma de pensar e de agir dos cidadãos das grandes cidades, por meio de iniciativas que não dependem da ação dos governos.
“Hoje há um novo tipo de ativismo, que tem a ver com pessoas fazendo coisas que impactam favoravelmente, mesmo quando essas pessoas não sabem disso”, afirmou.
Ele citou como exemplos a agricultura urbana, o cicloativismo e ações de economia criativa. “É impressionante como esses movimentos atraem e seduzem o público.”, disse André. “É um rio de ação cidadã”, completou. Na opinião de Palhano, o verdadeiro gestor moderno é aquele que consegue articular e conectar essas iniciativas.
O navegador e sócio-fundador do Museu do Mar, Amir Klink, defendeu mudanças na atitude individual de cada cidadão. “Precisamos deixar de ser individualistas e partir para ações colaborativas, e, para isso, teremos que passar por um processo de mudança de valores”, disse. “É evidente que, se a gente não mudar nossa atitude, vamos assistir à decadência completa das nossas cidades.”
A fotógrafa Marina Bandeira Klink, cujas fotos foram expostas no Fórum; a coordenadora do Programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malú Ribeiro, e o superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, Virgílio Viana, também participaram do debate.
Iniciativa Privada
No quarto painel do Fórum – A atuação das empresas – As Cidades do Amanhã, o presidente da Embratur, Vinicius Lemmertz, apresentou exemplos de cidades sustentáveis, como Canadá, Barcelona e Amsterdã.
Segundo ele, na área de turismo, o Brasil já conta com práticas sustentáveis, em cidades como Fernando de Noronha e Foz do Iguaçu. “O turismo pode ajudar reduzindo as desigualdades sociais.”, afirmou.
Alexandre Frankel, presidente da Vitacon e idealizador do livro “Como Viver em São Paulo sem Carro”, falou de mobilidade urbana e da importância da construção sustentável, com prédios próximos a centros comerciais, estações de metrô e com serviços de bicicletário – tudo para incentivar que o morador/trabalhador a usar menos o carro no seu dia a dia. “A solução das cidades está no compartilhamento de recursos como o carro e os escritórios (coworking)”, defendeu.
Felipe Faria, diretor-geral do Green Building Council Brasil, disse que o Brasil já é hoje o quinto país com maior número de certificações para construções sustentáveis, concedidas pela ONG americana U.S. Green Building Council.
O general manager de VE da Renault do Brasil, Carlos Santos, afirmou que não há vontade política do governo brasileiro para fazer do carro elétrico uma realidade no Brasil. A desoneração de impostos, segundo ele, seria uma das medidas necessárias para promover esse tipo de veículo.
Fernando von Zuben, diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak América Latina, defendeu a adoção de políticas públicas – como a coleta seletiva – para o desenvolvimento sustentável.
Ele lamentou que a lei que proíbe o fim dos lixões nas cidades ainda não tenha entrado em vigor. Guilherme Syrkis, vice-presidente da Absolar – Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, abordou o tema energia solar no Brasil.
O evento foi encerrado com um pronunciamento do governador do Paraná, Beto Richa, e com as conclusões finais da Carta de Foz.