Recomeça hoje (29/05), o Rock in Rio Lisboa 2014 com o mais esperado show deste ano, dos lendários Rolling Stones. Os ingressos estão completamente esgotados há semanas e uma equipe inteira está mobilizada em torno de uma movimentação superespecial de camarins (acompanhe detalhes no nosso Instagram ao longo do dia de hoje).
Evento esgotado, Cidade do Rock lotada a pergunta que não pode ficar de fora da nossa cobertura é: e a segurança?
Foto: Inês Caridade.
Comecei a trazer à tona o tema da segurança em eventos em 2013, em seguida ao trágico acidente da boate Kiss. Muitos artigos fantásticos foram escritos a seguir, muita gente que se importa com o assunto entrou na conversa, mas acidentes continuam acontecendo numa relação inversamente proporcional ao que se fala sobre como evitá-los.
No caso do Rock in Rio, embora sem acidentes graves, dois incidentes ficaram na história, um relacionado ao slider, em 2004, quando um participante precisou ser retirado de maca após bater contra um dos pilares na chegada, e outro em 2011, quando uma passarela do lado de fora da cidade do Rock desabou. A máxima “acidentes acontecem” é incontornável, mas de acordo com Roberto Medina cabe ao organizador pensar em todas as formas possíveis de evitá-los.
As respostas sobre como fazer isso não são tão óbvias quanto parecem – saídas de emergência, extintores, planos de segurança -, são mais simples do que se pode pensar e resumem-se, na opinião de Medina, a uma palavra: comunicação.
Foto: Agência Zero.
Promoview – Vamos falar sobre segurança.
Roberto Medina – Segurança não é questão de polícia ou bombeiro; primeiro, é respeitar todas as normas, que são rígidas, e tem que ser obedecidas. Tem que obedecer todas elas.
Se os eventos e as casas noturnas se preocupassem em cumprir as normas, dificilmente teriam problemas. É claro que existem acidentes, mas dificilmente acontece para quem cumpre e pensa em todos os detalhes. O que me parece, e até no próprio Brasil pelos exemplos recentes, é que muitas casas não cumprem as regras mínimas…
Promoview – E quais são os passos a seguir para evitar acidentes?
Roberto Medina – Primeiro é importante os participantes estarem bem. Por exemplo, nos EUA, no 2º ou 3º Woodstock, eles incendiaram o palco. Atribuo isso ao fato da Coca-Cola estar sendo vendida a 15 dólares, por exemplo. O participante ficava com raiva e perdia a cabeça. Neste sentido, eu coloco o preço de tudo no Rock in Rio tabelado. É o único evento do mundo que faz isso, ele não pode vender mais caro do que estabelecido. O cara chega bem na Cidade do Rock e lá permanece bem. Temos uma preocupação no fluxo do trânsito para fazê-lo chegar até aqui, e, chegando, é bem acolhido. Isso é segurança, não é polícia.
Promoview – Mas a polícia é importante, tanto que na coletiva vocês sempre tem um representante comentando as precauções para o evento…
Roberto Medina – Exato, mas nenhum policiamento faria um evento mais seguro se não tivesse a nossa preocupação anterior a isso. Lá no Brasil, no nosso terceiro Rock in Rio, tinha 250 mil pessoas circulando por dia. Já passaram pelo Rock in Rio mais de sete milhões de pessoas. E como é que faz? Não faz! Faz o seguinte: toda a estrutura montada pensando no bem estar.
Promoview – E como passar tudo isso para quem vem para a festa ou mesmo como transferir esse senso de responsabilidade com a segurança para o participante?
Roberto Medina – Esse é um ponto interessante, como transferir a segurança para o participante. Somos o único evento no mundo que não tem bebida quente [alcoólica] no gramado. Fiz isso desde o primeiro. Nós brasileiros somos um povo amistoso, que gosta de beber entre amigos, então… menos! A nossa cerveja não deixa o cara bêbado, no máximo ele fica “alegrinho”… É tudo muito pensado no detalhe. Se entregar uma experiência correta, por um preço correto, em um ambiente bacana, todo mundo se diverte e não tem problemas.
Outro detalhe que construiu a nossa história é o fato de sempre termos batido na tecla do Rock in Rio ser um evento para a família. Todo o evento de música nos EUA, por exemplo, tem uma linha só: ou é country, ou é reggae… O Rock in Rio é tudo, um dia cada coisa. Com isso vem o pai, vem a mãe e vem o filho. E aí também você tem uma cortina de segurança porquê é uma família que está ali. Então é uma coisa pensada, nada é por acaso.
Promoview – A questão é que quem vai como público não tem nem a noção de que pode estar inseguro. É uma preocupação que eu noto que vocês comunicam quando fazem a cobertura, recomendando como vir, o que trazer, como se vestir…
Roberto Medina – Exatamente! Aliás você tocou num ponto importante: comunicação é segurança. Você comunica por onde sai, onde entra, não venha com pouco agasalho, traga filtro solar, beba muita água durante o evento… É isso que faz toda a diferença.
Quando eu vi no primeiro Rock in Rio que ia ter um milhão e meio de pessoas, eu pensei: caramba, isso é uma alegria e é um pavor. Foi então que comecei a pensar no detalhe do que eu podia fazer para criar um ambiente mais agradável. No 1º Rock in Rio de Portugal, em 2011 foram 100 mil pessoas. Eu diminui a venda de ingressos. Claro que a área financeira me pergunta “como você faz isso se vendia tudo!”, mas eu assumi, pois achava muita gente e diminuí por minha conta, sozinho, sem uma lei ou indicação da segurança. Então acho que é isso, quando você tem essa preocupação e leva a sério, dificilmente o acidente acontece.