Surrealizando o Rio, cidade onde moro e trabalho, me dei conta de que o estilo de Dali é daqui e de muitos outros lugares do Brasil. Uma espécie de antimarketing que só confirma o quanto são tolos e amadores nossos empresários. Daqui, dali, e de todo Brasil também, infelizmente.
Se não me admiro, apenas confirmo com os olhos e o bolso a velha e insistente norma do empresariado brasileiro, seguida, pasmem, até pelos empresários internacionais, antes profissionais qualificados a entender de estratégias mais inteligentes de mercado.
É simples. Se o vírus da lei ( com “L” minúsculo mesmo) de Gérson é assimilável por qualquer boçal Neandertal, imagine então por um “homus safádicus contemporaneus”.
E o que isso tem a ver com os meus textos semanais, falando do mercado, do cliente e dos nossos profissionais? Sei lá. Me deu um estalo aqui, nesse Sol escaldante de janeiro que, talvez, tenha cozinhado um pouco meus neurônios. E uma percepção esdrúxula me veio à mente.
Antigamente, nem tão antigamente assim, os empresários jogavam com os preços para atrair clientes e não roubá-los, ou seja, baixava-os. Se utilizavam de promoções e ações de marketing para mostrar que vendiam produtos de qualidade, que seu pessoal de atendimento era qualificado e treinado, que seus preços eram competitivos e que a fidelização era a sua meta.
Hoje, o que os caras, no Rio – e em muitas cidades antes incólumes como São Paulo, por exemplo – fazem é: ignorar qualquer tipo de qualidade, do produto ao atendimento (somos atendidos por pessoas que nos ignoram, atendem mal, não sabem dar respostas, não sabem sequer que seus salários são pagos por nós).
Os preços ou são cartelizados, todos cobram a mesmíssima coisa, inclusive nos centavos, ou são – arrepia aí, meu compadre – mais caros que o da concorrência. Isso mesmo, eles acham que se cobram mais caro mostram que são melhores (putz. Alguém me ajuda aí!).
Essa inversão, a meu ver, tem a ver com cinco coisas: um momento ímpar para o Brasil na afluência de turistas externos, e internos, que, no afã de se divertir, gastam sem pensar e incentivam a trama; uma conivência inexplicável do consumidor brasileiro que deve ter acreditado na “Petezada” que espalhou aos quatro ventos que somos um País rico, de gente rica, e que aceita tudo calado, até ser roubado na cara de pau, sem reclamar.
Afinal, quem reclama é black bloc; a omissão dos órgãos públicos na fiscalização e punição; empresários tacanhos e improdutivos; e ao comando total das empresas estar nas mãos do pessoal de compras, suprimentos, administrativo e financeiro, em detrimento absoluto do pessoal de marketing e planejamento.
Ou seja, quem está à frente de tudo, em todos os setores empresarias, quem dá a palavra inicial e final são os caras que só pensam em fazer dinheiro. Eles fazem o dono ganhar uma grana rápido, de qualquer jeito, a qualquer custo e esquecem marcas, serviço, qualificação e treinamento. Aí, os caras assimilam a ideia de que ganhar dinheiro rápido, em detrimento de sua mina de ouro, o cliente, e aproveitar oportunidades de arrumar algum é mais importante que criar marcas perenes e reconhecidas e manter clientela fiel.
Por isso, empresas e lojas acabam tão rapidamente hoje em dia. Por isso, empresas e marcas líderes perdem espaço no coração e no bolso dos clientes com facilidade e por besteiras inexplicáveis a alguém sensato. Por isso, aos poucos, no mundo live, empresas e marcas decepcionam e tem seus dias contatos.
De uma marca de telefonia que já foi líder e hoje é motivo de chacota, a uma empresa de bebidas que sofre concorrência leal de quem investe na marca, até a redes de restaurantes e lojas que, aos poucos, viram alvo do ódio e descaso dos consumidores, antes fiéis, que delas se afastam para procurar outros lugares, todos vão sentir o peso de se tornarem marcas e empresas inimigas dos consumidores por percepção errônea de que se engana todos por todo o tempo.
Há os espertos que mudam de nome, de endereço, de ramo. Mas não mudam como profissionais. E o seu destino, quando a onda se assentar, será o afogamento mesmo e o insulamento.
É isso. Pirei? Foi o Sol? O coco? A porção de batata frita? O telefone que não funciona? A cerveja quente que vou jogar nos pés? Eu imaginei na Copa? Voltei a comer na cozinha? Não…
Na minha humana persistência em entender que só quem tem competência, formação, qualificação e talento para planejar, criar e produzir coisas boas, que só clientes que entendem seu papel como empresa e marca frente à sociedade e que é preciso sim controle financeiro, mas também investimento em gente e em qualidade de atendimento e valorização de marca, eu surrealizei.
Pintei um quadro futurista, vendo lá em 2017 um mercado livre dessa gente, cheio de grandes negócios, sem uma corja manjada… e não é que uma pomba saiu da minha cabeça.
Que paz surreal!