Por Hegel Vieira Aguiar
Desde o advento da ascensão das classes sociais menos favorecidas (C/D) percebo a miopia dos profissionais de comunicação e marketing de diversas marcas e agências de publicidade, as quais trabalhei, em saber interpretar as necessidades desses consumidores.
Mesmo com o fácil acesso a diversos estudos que revelavam o novo perfil do consumidor brasileiro, um preconceito arraigado nos caras dificultava a aceitação, por exemplo, de que os adolescentes da classe C tinham o mesmo comportamento e necessidades dos meninos e meninas das classes A e AB: os smartphones e tablets “da hora”, com acesso a internet, vídeo games de última geração, notebooks, os melhores perfumes, roupas assinadas por marcas famosas, e, muito além dos objetos de consumo, a garantia da manutenção do poder econômico com o investimento em informação e estudos.
Muitas famílias que investiram na faculdade dos filhos e aqueles profissionais que já se mantinham no mercado de trabalho e, perceberam a oportunidade de investir nos estudos para conquistar a ascensão na carreira, foram responsáveis por deslocar os seus grupos para a posição de classe média, reconhecidos como a nova classe média brasileira.
O movimento dos #rolezinhos nada mais é que uma expressão das necessidades dos adolescentes que integram esse novo perfil de consumidor e, a miopia das empresas e profissionais está no fato de não saberem reconhecer o fenômeno como uma oportunidade, justamente por ignorarem indivíduos que valorizam as suas origens, os seus valores e cultura. Tudo de forma muito autêntica, de cara limpa, sem a hipocrisia dos “I wanna be” que fazem parte da decadente classe média brasileira? – ?indivíduos que, enclausurados em um mundinho de futilidades e com um forte sentimento de individualidade (sou o umbigo do mundo). Não suportam a ideia de dividirem os espaços e sentem-se afrontados com a autenticidade desses jovens cheios de energia e com orgulho em afirmar que também são consumidores especiais e querem ser tratados como tal.
Motivos não Sobram Para os Consumidores da Nova Classe Média Brasileira Serem Tão Especiais
Os indivíduos da classe C correspondem a 50,5% da população;
Dominantes no ponto de vista econômico;
Em 2013 os gastos da classe C chegaram a aproximadamente R$6,8 bilhões com material escolar e R$ 55,7 bilhões com produtos de moda.
Valorizam produtos de qualidade e alta durabilidade, por isso são os indivíduos que menos compram produtos piratas no País.
Confira que interessante os dados abaixo que são do “Data Popular”:
– A classe alta é a que mais compra produto pirata no País. Segundo os dados, 61% dos consumidores da classe AB adquiriu um produto falsificado no último ano.
– Entre as pessoas da classe média (classe C), o indicador é de 56%, enquanto na classe baixa (D, E e F), o percentual é de 51%.
– As mulheres da classe AB são as principais consumidoras de produtos falsificados. Pela pesquisa, 73% afirmaram que compraram produtos piratas, enquanto os homens somam 50%.
– Já nas outras classe, isso não acontece. Na classe C, elas somam 53% e os homens 59%. Na classe baixa, o percentual é de 63% para homens e 44% para as mulheres.
– De maneira geral, 56% dos brasileiros disseram que compraram produtos piratas no último ano.
Os jovens da nova classe média não desejam o estilo de vida das elites e preferem produtos que valorizam as suas origens e inserem marcas famosas a realidade das suas culturas, a exemplo do funk ostentação, um outro movimento de afirmação de “poder ter, comprar, conquistar”.
Raciocínio Estratégico Inspirado Neste Cenário
Monitoramento
A maioria nos shoppings mantêm os seus perfis ativos nas mídias sociais e monitoram as conversas em que são mencionados, mas não vale monitorar apenas para medir indicadores de visibilidade, audiência, engajamento e responder a demandas de atendimento. O grande valor do monitoramento é identificar quem são as pessoas que discutem e opinam sobre os shoppings nas mídias sociais e entender as necessidades desses consumidores, transformando os dados em insights para inovação, antecipar as necessidades dessas pessoas com soluções que os surpreendam, além de agregar melhorias a processos e serviços.
Ao identificar as menções associadas ao #rolezinho, o alarme da oportunidade dispara e daí é necessário assumir o perfil da marca amiga, agir com atitude:
Diálogo / aproximação
– Interagir de forma amistosa com os organizadores do evento, se apresentar para os caras curtindo a novidade e afirmando que serão bem vindos ao shopping. Somos parceiros!
Reconhecimento
– Com 10% da amostra do número total de participantes, consegue-se identificar o perfil geral dos usuários: faixa etária, gênero, preferências, hobbys, causas que se identificam, musicas que curtem, necessidades relacionadas ao consumo, desejos entre outros.
Colaboração
– Planejar uma estrutura para o evento e comunicar aos organizadores a capacidade limite de convidados, para que seja um acontecimento confortável a todos. Detalhe que reforça a percepção de serem especiais.
Customização
– Uma estrutura com soluções inspiradas nas necessidades e comportamentos identificados na análise de perfil dos participantes. Surpreender!
Parcerias estratégicas:
– Buscar apoio com marcas que integram o mix do shopping, aquelas com maior identificação pelos integrantes do grupo.
Atitudes que possibilitam a inserção da administração do shopping no processo de organização do evento em colaboração com os organizadores do #rolezinho. A Garantia para a manutenção da ordem durante o acontecimento, valorização dos participantes enquanto consumidores, e o reconhecimento como especiais.
Não existe mais a segmentação planejada. A cauda dos estilos de vida é muito longa no que também se refere ao poder econômico e classes sociais.