Ao som de tambores, acrobatas e palhaços de mangas bufantes lideraram uma estranha procissão pelas ruas do centro de Porto Alegre na tarde do dia 02/12. Os caminhantes não rezavam, mas carregavam 25 estandartes com imagens de obras de arte.
O cortejo partiu do Paço Municipal, onde a Banda Municipal começou a tocar pouco antes das 18h. Nem todos sabiam bem o que estava acontecendo. A doméstica aposentada Carmem Terezinha dos Santos, de 60 anos de idade, sentou na escadaria da antiga prefeitura e se deixou embalar pelos músicos.
“Eu não estou entendendo nada, mas parece importante!”, dizia ela, quase dançando.
E de fato era. As festividades marcaram a transferência da Pinacoteca Ruben Berta, um dos acervos públicos mais importantes do Estado, para sua moradia definitiva, um casarão histórico da Rua Duque de Caxias.
Há um simbolismo especial na mudança: Até então, as 125 obras da pinacoteca estavam guardadas no subsolo da prefeitura, tão longe do público que muitas delas jamais chegaram a ser expostas. Com a nova sede, elas vêm à luz.
“Estava tudo escondido no Paço Municipal, ficavam praticamente em uma caixa forte. Agora as obras vão estar expostas da forma mais democrática possível”, disse o prefeito José Fortunati, que espera abrir a casa a muitas excursões escolares.
Não era preciso conhecer os caminhantes para entender que eram artistas, gestores e profissionais da arte. Andavam orgulhosos erguendo obras assinadas por mestres do porte de Flávio de Carvalho, Almeida Júnior, Di Cavalcanti e Portinari.
Os banners reproduziam telas, xilogravuras e litografias da coleção do empresário Assis Chateaubriand (1892 – 1968) batizada com o nome de Ruben Berta, presidente da Varig morto em 1966, em homenagem ao amigo gaúcho.
Pelas ruas, os olhos marcantes do rapaz pintado em “Busto de Jovem”, de Pedro Américo, pareciam encarar de volta os curiosos que paravam para assistir. O cortejo surgia com alarde a cada nova rua, começando pela Uruguai, adentrando a dos Andradas, a General Câmara e a Praça da Matriz, até chegar no número 973 da Duque, onde fica o novo museu.
A procissão culminou no casarão de estilo eclético, construído no começo do Século 19. A nova sede da pinacoteca não marcou apenas o fim da caminhada, mas também o de uma reforma que durou seis anos e sofreu com várias interrupções.
Recebidos pela elegante fachada em cinza e branco, os visitantes atravessaram o interior claro da casa, de três pavimentos, e foram até o pátio interno para o ato de inauguração.