Após a coletiva de imprensa do dia 21/05/2012, foi na noite do “ensaio geral” do Rock in Rio Lisboa que a editora internacional do Promoview Ariane Feijó conversou com exclusividade com o empresário e idealizador do Rock in Rio, Roberto Medina. Medina abriu o jogo e gentilmente fez uma análise do mercado para os leitores do Promoview.
Centrado no projeto inicial de quase três décadas, o empresário criticou de forma veemente a falta de criatividade das agências de comunicação na hora de pensar ativações de marca, considerando que o mercado de eventos está longe de atingir a excelência, tanto no Brasil, quanto no mundo.
No gramado do Rock in Rio Lisboa, após o show do Sepultura que teve a importante função de garantir os testes finais de luz e som, diante do palco mundo, Medina contou para Ariane Feijó um pouco dos seus planos para o futuro e dos novos negócios globais, deixando a lição de que a única maneira de fazer realmente diferente, é sonhando alto e buscando a melhoria contínua.
Ariane Feijó|Promoview – O Rock in Rio foi um plano de futuro que graças a muito trabalho se tornou uma realidade. E hoje, o que você imagina para o futuro?
Roberto Medina – Acredito que o futuro a gente constroi a cada dia. Quando acaba um projeto desses, a minha sensação de felicidade e alegria por conseguir transmitir isso pra tanta gente, só permite que eu questione: o que pode melhorar? Eu gosto de concentrar no que estou fazendo no agora. E, agora, o que posso dizer é que a marca Rock in Rio está muito preparada. Portugal foi um projeto importante para olhar mais o mundo, eu estava muito centrado no Brasil. A Espanha também foi, agora teremos a nova experiência na Argentina. Hoje somos uma marca de eventos de entretenimento muito acima dos padrões internacionais e o futuro é sermos ainda mais, ainda melhores.
Ariane Feijó|Promoview – Como um dos pioneiros no setor de marketing promocional no Brasil, como você enxerga, hoje, o setor de eventos?
Roberto Medina – O mundo demorou muito para acordar e começar a fazer a comunicação 360º. As pessoas falam muito, mas fazem pouco, ou sequer fazem, ficando apenas no discurso. Quando iniciei a minha agência em 1972 eu já trabalhava isso. Fazia lançamentos imobilários, parava a rua, fazia estandes estranhíssimos para impactar as pessoas.
Há 17 anos foi a Árvore de Natal [na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro], e eu lembro que o briefing do cliente era “Eu quero emocionar a cidade, quero dar um presente de Natal para as pessoas”. Só que ele pensou isso imaginando uma campanha publicitária e a minha campanha publicitária era aquilo. Uma árvore no meio da Lagoa, uma experiência mais forte que poderia proporcionar esta sensação.
No nosso caso, construímos uma marca um ano antes, para que o patrocinador ative essa marca como deve ser, em diversas campanhas no evento em questão. Na verdade, o que eu estou fazendo é antecipar a campanha dele, é dar o tema da campanha para ele trabalhar e ativar a marca e depois tudo acabar numa grande festa.
Ariane Feijó|Promoview – E como você acha que as agências de comunicação devem encarar o futuro?
Roberto Medina – Eu acho que nas empresas de comunicação temos que estar um passo à frente do tempo. No negócio da música, por exemplo: o cara tem um palco muito ruim (e isso é no mundo inteiro, não estou falando desta ou daquela região) e tem os artistas. A cabeça de um promotor de shows é binária (e eu conheço inúmeros): contrata uma banda, vende ingresso e acabou.
É estranho que o mundo da comunicação ainda não tenha aportado para a “coisa” do evento. A gente vê muitas coisas pouco criativas, como se as marcas e as empresas não tivessem acordado ainda para este caráter tão importante da experiência. E não acordaram nem no Brasil, nem em lugar nenhum. Os números mostram isso e são de uma discrepância violenta.
Você tem um evento emblemático como Glastonbury e o Coachella, e os caras tem 250 mil fãs nas redes sociais. Compara com o Rock in Rio, nós temos cerca de cinco milhões. Não faz sentido! Eles tinham que ter muito mais, ou seja, a relação do consumidor com a minha marca é muito mais forte do que com festivais muito mais antigos. Eu espero que no futuro as agências acordem para isso.
Ariane Feijó|Promoview – O Rock in Rio chegou longe e agora vai ainda mais. O que você já pode antecipar destes futuros Rock in Rio pelo mundo?
Roberto Medina – Nós buscamos sempre, em primeiro lugar, ter sintonia com o público que vamos atender. Por exemplo, no Oriente Médio as pessoas não têm muita ligação com a música; o que se compra lá é grandeza, luxo. Eu já desenhei o projeto da Cidade do Rock do futuro e ele é absolutamente incrível. É espantosa a Cidade do Rock do futuro. Parece que a gente está na lua.
Ariane Feijó|Promoview– Mas não aquela uma lua à lá 2001: Uma Odisseia no Espaço, não é? (risos)
Roberto Medina – (risos) Não, a minha é uma lua mais realista. Realista e inovadora. A cada ano eu tento inovar, tirar a concentração do palco principal e fazer a experiência ser ainda mais rica. O palco principal não é uma novidade, ele é um detalhe, e superimportante, afinal é um conjunto de detalhes que fazem o Rock in Rio ser o que é.
Uma vez, o presidente da Souza Cruz, saindo do Hollywood Rock, passou por mim e eu perguntei: “E então, está satisfeito?” E ele respondeu: “Não, aqui foi o show da Madonna, não foi o Hollywood Rock”.
Aqui na Cidade do Rock não é o show da banda A ou B. Aqui é o Rock in Rio do Millennium, da Vodafone, da Heineken… Tudo isso é o Rock in Rio. Este é o raciocícinio que fiz há 28 anos porque não tinha como fechar a conta. Era um projeto que custava 50 milhões de dólares e o bilhete não pagava. Como nao paga até hoje.
Ariane Feijó|Promoview – Algum outro sonho sobre o qual não tenhamos falado?
Roberto Medina – Expandir, ser uma plataforma global, ver o projeto social ser mais do que estamos fazendo. Não estou satisfeito, acho que faço pouco, quero fazer mais. E falo em fazer mais não apenas como investimento do ponto de vista do capital, e sim, comovendo, mobilizando as pessoas. Eu sou muito pequeno para mover alguma pecinha sozinho neste planeta.
A única forma de fazer a diferença é movendo a comunidade, sensibilizando, é como posso ajudar. Enquanto o capital não entender que tem que trabalhar as duas pontas, tanto quanto trabalha o negócio trabalhar também a sociedade, a gente vai ter um mundo desigual. Aproveitar a coisa da música e o relacionamento de pessoas é bom, gera emprego, gera impostos. Mas isso é menos do que eu sonhei. Meu sonho não atingiu a plenitude. Concluir um Rock in Rio é cumprir uma etapa. Fico feliz, mas não estou satisfeito.