Após um 2011 marcado por escândalos governamentais e reflexos da crise global, o Brasil vê diminuir a confiança em suas principais instituições. Os resultados da décima segunda edição do Estudo de Confiança – Trust Barometer, realizado pela agência de relações públicas Edelman em 25 países, demonstram que o clima de euforia no Brasil chegou ao fim e confirmam o ambiente de crise vivido na Europa, Estados Unidos e Japão.
A pesquisa, que mede o nível de expectativa em relação a governo, mídia, organizações não-governamentais e empresas, registra neste ano um baixo nível de crença do brasileiro em relação a tais instituições. Os dados serão apresentados pela Edelman Significa em São Paulo no dia 07 de março e no Rio de Janeiro, em parceria com a ABERJE, no dia 08.
O levantamento contemplou dois grupos de entrevistados. A primeira amostra,
classificada como “público informado”, abrangeu 5,6 mil pessoas em todo o mundo com
idade entre 25 e 64 anos, formação superior e frequente contato com notícias e políticas
públicas. Este grupo é o mesmo considerado nas edições anteriores do estudo e provê a
leitura histórica dos dados.
A novidade nesta edição refere-se a questões feitas junto ao público geral, em que 25 mil respondentes com mais de 18 anos foram consultados nas nações participantes. Somente no Brasil, mil pessoas integraram tal amostra.
China lidera ranking; Brasil cai
O ambiente negativo gerado pela crise da zona do Euro, a paralisia norte-americana e as
sequelas da tragédia ambiental que atingiu o Japão influenciaram diretamente os
números apresentados pelo estudo. Se 2010 representou um ano de esperança para
muitos dos países participantes – inclusive o Brasil –, a edição atual demonstra que o
ânimo global arrefeceu.
Na opinião do público informado, o índice mundial de confiança caiu de 55% para 51%.
No período anterior, o Brasil liderou o ranking com 80%. Porém, neste ano, despencou
para a 12% a posição ao registrar somente 51%, atrás de países como México, Argentina e Índia. O primeiro posto é ocupado pela China, que atingiu 76%. Entre as instituições analisadas, a mídia foi a única que elevou a confiança atribuída, enquanto as demais – ONGs, governo e empresas – apontaram retração. A queda mais acentuada afetou o poder público, que decresceu de 52% para 43%.
De acordo com o público geral pesquisado, os governos também representam a face institucional de menor prestígio, enquanto as organizações não-governamentais são as mais críveis, panorama que se repete na América Latina.No âmbito global de negócios, os setores mais confiáveis considerados pelo público informado são, respectivamente, tecnologia, automotivo e alimentos e bebidas. Bancos empresas de serviços financeiros, entretanto, são as que desfrutam de menor credibilidade entre os respondentes
Para brasileiros, empresas e mídia são mais confiáveis, em oposição a governo e ONGs.
No Brasil, as organizações não-governamentais e o poder público perderam prestígio em
decorrência dos escândalos aos quais foram expostos no ano passado. Por outro lado, a
mídia e o setor empresarial sofreram quedas menores no índice de confiança.
Embora o declínio registrado na pesquisa tenha sido de 18 pontos – de 81% para 63% –, o Brasil retornou ao nível pré-eleições presidenciais, época marcada pela euforia que rondou o ambiente econômico do País. Entre os setores mais respeitados figuram tecnologia, alimentos e bebidas, bem como a indústria automobilística. Mesmo assim, o índice local supera países como Espanha, França, Alemanha e Estados Unidos, mas é apenas o terceiro entre os BRICs. Entre o público geral, o meio empresarial também é o mais confiável.
A mídia, destaque nesta edição do levantamento, é a segunda classe de maior
expectativa junto ao brasileiro, com índice que supera, por exemplo, Estados Unidos e
Suécia. Segundo os dados locais, os meios tradicionais, como jornal ou televisão, são os
mais confiáveis, com 51%, seguidos das mídias digitais, como blogs e portais, com 42%.
As redes sociais possuem a confiança de 21% dos entrevistados e os meios institucionais
pertencentes a empresas, como releases e sites corporativos, apresentaram aumento de
dois pontos percentuais, com 27% da confiança. Entretanto, o brasileiro permanece
cético: 56% precisam ouvir uma informação sobre qualquer empresa de três a cinco
vezes para confiar nela.
Por outro lado, a percepção do público informado sobre o governo decaiu severamente
em comparação ao ano anterior do estudo. A baixa registrada no Brasil foi de 53 pontos
percentuais, que levou o número obtido a 32%. A amostra geral é ainda mais descrente:
apenas 27% acreditam no poder público, no que configurou o pior desempenho da
América Latina. Outra queda brusca foi detectada na confiança junto às ONGs – de 80%
para 49% na amostra de público informado.
Se as instituições decaíram, o brasileiro passa a acreditar mais em si mesmo, sobretudo
quando o assunto é opinar sobre uma empresa. Entre o público informado, 86% confiam
mais em uma pessoa comum quando desejam saber algo a respeito de uma companhia.
Técnicos, acadêmicos e funcionários têm, neste caso, mais credibilidade que o
presidente para tratar assuntos que envolvam uma marca. O agente menos confiável
para o brasileiro neste contexto é o representante governamental, com apenas 30%.
Expectativa supera a prática
Uma das razões exploradas na pesquisa para justificar a queda apontada em diversos
países é a disparidade entre expectativa e real cumprimento por parte das instituições.
Globalmente, o público informado acredita que os pontos mais vulneráveis das empresas
residem no respeito ao consumidor e no tratamento dos funcionários.
No que se refere ao governo, o abismo é ainda maior: a amostra geral crê que o poder público ouve pouco os cidadãos, não é transparente e gerencia mal os interesses de seus respectivos países. Para Yacoff Sarkovas, CEO da Edelman Significa – que, por sua vez, apresenta a pesquisa no Brasil – o panorama apontado pelo estudo demonstra a necessidade de novos tipos de autoridade e liderança.
“Propósito e princípios tornam-se fundamentais para liderar uma empresa ou relacionar-se com outras instituições. Para uma organização ser considerada crível, apenas lucro ou qualidade não bastam; é preciso ser transparente e compartilhar valor junto à sociedade”, afirma.
Conheça, abaixo, outros dados da pesquisa referentes ao Brasil:
• Para 59% dos entrevistados, o país caminha na direção errada.
• A confiança nos líderes de governo mostrou-se baixa: 43% dos entrevistados
acreditam que eles não são transparentes.
• Para 81% dos entrevistados da amostra geral, é importante que as empresas se
envolvam na solução de problemas socioambientais de seus países.
• Também na amostra geral, 52% dos entrevistados acham que seus governos não
regulam as empresas de maneira suficiente.