Na semana passada, utilizei este espaço para destacar a minha percepção de estar perante o nascimento de uma nova era. Uma era de empresas responsáveis e éticas. Uma era da verdade, da transparência e do respeito. Menos por altruísmo ou consciência natural das empresas, mais pela “patrulha” da parte mais poderosa e soberana dos processos negociais: você, eu, os consumidores.
Enfatizei o crescimento da força da Vox Populi com a popularização e penetração das redes sociais. Estamos todos de olho nas atitudes das empresas e não deixaremos barato as pisadas na bola. Pois bem, de uma semana para cá, presenciamos um fato que ocupou manchetes em veículos de comunicação do mundo inteiro, a eliminação de Osama Bin Laden.
Não há dúvida da nocividade e da periculosidade desse líder de um movimento terrorista que tanta morte e destruição provocou, culminando com a autoria de um dos mais impactantes eventos da história, a destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque.
Mas incomoda ver a “comemoração”, principalmente dos americanos, de uma morte, ainda que justificada pelos atos bárbaros e pelo estado de “guerra” argumentado pelos EUA. Não vou entrar no mérito da validade ética, moral e até legal do ataque em um outro país e à morte de um ser humano, sem julgamento.
Gostaria, isso sim, de ver esse fato como mais um catalisador da reflexão sobre uma nova era. E restringir-me ainda mais, focando os negócios. Afinal, essa é uma coluna de marketing, certo?
Reporto-me então aos tempos (há mais de 20 anos) em que eu atuava na empresa líder de refrigerantes no mundo. Nos planos estratégicos da empresa, havia sempre um “inimigo” destacado. Devíamos estar sempre atentos aos “azuis”, que estavam sempre prontos a “roubar” participação de mercado, a atacar nossas bases, a eliminar posições de liderança. E havia gritos de guerra: “Vamos acabar com eles!”.
Do lado do concorrente, o clima não era menos “belicoso”. De vez em quando, chegavam às nossas mãos vídeos e outros materiais motivacionais do concorrente, insuflando sua “tropa” a nos atacar. Meus colegas mais antigos na empresa contavam histórias de promotores do “inimigo” que portavam anéis grossos, que eram utilizados para arrancar lascas do “bico” das garrafas retornáveis de vidro da concorrência, evitando assim sua reutilização.
Prefiro imaginar que tais histórias sejam estórias, lendas. Mas o clima reinante na época era esse mesmo. Era um querendo aniquilar o outro. Nessa nova era que apregoo, tal concorrência se dá mais pela capacidade criativa de gerar produtos que atendam às necessidades mutantes do consumidor e na eficiência mercadológica e logística do que na confrontação direta entre concorrentes.
Não quero parecer ingênuo. É claro que há competição ferrenha e que os planos incluem dribles estratégicos à concorrência, mas não me parece que as empresas estejam lutando para eliminar seu concorrente, mas, sim, para ocupar espaços, sair na frente, conquistar a simpatia de consumidores.
Refiro-me mais uma vez ao conceito de Empresa Válida, cunhado pelo IMI (Instituto de Marketing Industrial), que estabelece às empresas uma razão que extrapola a simples venda de produtos ou serviços. A tal “razão social” vai muito além do simples nome e ganha significado quando imaginamos as empresas da nova era como aquelas que estão inseridas num contexto de melhoria da sociedade, atuando como agentes de desenvolvimento social.
E nesse contexto estão os princípios de respeito ao meio ambiente, à ética empresarial, às relações justas com empregados, fornecedores e demais stakeholders, enfim, uma postura responsável, por completo.
Cito mais uma vez José Carlos Teixeira Moreira, presidente do Instituto de Marketing Industrial e pregador-mor desse novo conceito de empresas válidas: “A empresa válida constrói uma cadeia de valor, tem atitudes genuínas e autênticas, cria prosperidade entre todos os agentes da cadeia produtiva e estabelece relações significativas”. E com relação ao efeito Bin Laden, prefiro admirar a reconstrução do complexo World Trade Center em Nova Iorque, que prevê quatro novas torres, uma delas já bem adiantada. Prefiro pensar na luta pela prosperidade, construída sobre bases sólidas do respeito e da paz.