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Com ou sem Nota Fiscal?

Tenho 48 anos, trabalho desde os 18. Me formei em Administração aos 20, trabalhei em uma das maiores empresas do Brasil e do mundo durante quinze anos, em uma multinacional francesa por mais dois, tive 2 franquias por quase 10 anos e tenho minha própria empresa também há dez anos...

Tenho 48 anos de idade, trabalho desde os 18. Me formei em Administração aos 20, trabalhei em uma das maiores empresas do Brasil e do mundo durante quinze anos, em uma multinacional francesa por mais dois, tive duas franquias por quase dez anos e tenho minha própria empresa também há dez anos…

Ao longo de todo este tempo, sempre ouvi e vivi na pele as dificuldades do Brasil: grade tributária complexa (nenhum gringo entende, apesar de dizerem que entendem), legislação trabalhista sem atualizações, planos econômicos sucessivos, juros altíssimos, etc, etc, etc. Tudo verdade… 

Mas também somos testemunhas de como se tornou mais fácil a declaração do IR, o aumento da formalização dos negócios seja pelo aumento da penetração dos meios de pagamento via cartões seja pela implementação das micro empresas e MEI… E também como a informatização auxiliou os mecanismos de fiscalização.

Mas uma coisa não mudou nunca nos meus 30 anos de trabalho: fornecedor fazer a clássica pergunta – com nota ou sem nota? É uma instituição nacional essa sonegação. A justificativa sempre é: mas vou pagar imposto para não ter nada em troca do Governo? Do vidraceiro ao produtor de eventos; da gráfica ao artista consagrado; sempre a “arquitetura fiscal”, neologismo da sonegação volta à conversa…

É fácil justificar seu erro em função do erro do outro, ao invés de fazer sua parte e exigir do outro que faça o correto. O erro não é só do poder público, é da sociedade, que pratica e tolera esse hábito tão corriqueiro. Eu costumo dizer que se for para viabilizar um negócio contando com a sonegação, nem começo a discutir o business plan. Pode ser uma postura de “virgem” no inferno, para não dizer outro lugar, mas isso me permite colocar a cabeça no travesseiro ciente de que estou em dia com meus deveres e que por isso posso cobrar meus direitos.

Na maioria dos países desenvolvidos, a carga tributária é maior, principalmente se considerarmos apenas o IR. O gargalo brasileiro é como gastamos a arrecadação, mas cobrar efetividade no gasto público não exime cumprir com sua obrigação. Vamos administrar nossos custos e receitas porém com responsabilidade fiscal. É fácil apontar o erro dos políticos mas e nós? Como sociedade?

Nestes meus dez anos no meu negócio atual, o concurso Comida di Buteco, já fui abordada várias vezes para “ajudar” a sair uma negociação: cobra a mais e repassa “comissão” para outro… Nada contra pagar comissão, desde que seja previamente combinado e mediante Nota Fiscal, claro! Isso vindo de empresa pequena, autônomo, multinacional e poder público… Ou seja, o problema é a postura da sociedade em enxergar essa prática como normal. Vamos educar os filhos e funcionários para mudar isso?

E comece de uma coisa simples: pedir e fornecer Nota Fiscal, sempre… Não importa o tamanho da sua empresa, mas governança e boas práticas são fundamentais!