Ainda sob o efeito da tragédia de Santa Maria, e impactado pelo excelente texto da Ariane Feijó sobre o assunto, refleti um pouco antes de escrever para o Promocitários dessa semana.
Temia que me achassem pouco lúcido ou mesmo descontextualizado, por isso busquei fazer um texto que leve à reflexão também, usando vários outros que já escrevi e li.
Já pululam na mídia comparações esdrúxulas com o nosso trabalho por conta do que aconteceu. E esses paralelos, me perdoem os alarmistas de plantão, não são tão verdadeiros.
Não havia uma Agência responsável pelo evento, nem produtores de verdade envolvidos. Havia jovens fazendo uma festa, numa casa de shows que não tinha alvará e nem sequer havia sido fiscalizada pelos órgãos públicos. Havia um empresário mais preocupado em ganhar dinheiro que em cumprir as leis. Etc, etc, etc.
E se não tem nada com a gente… Pera aí! Eu não disse isso… Eu disse que os paralelos são indevidos. Mas sim, temos que, a partir do fato, pensar melhor algumas coisas.
Vejamos e me respondam: Vocês estão vendo cada vez mais clientes, alguns bem grandes, fazerem concorrências onde só o preço é o que interessa e a técnica é relegada a plano inferior ou zero?
Quantos clientes seus começaram um briefing ou mesmo ressaltaram nele a frase: “QUEM NÃO TIVER NO PROJETO E ORÇAMENTO O ÍTEM EHS (Emergency Health Services), EM DESTAQUE E DETALHADO, ESTÁ FORA DA CONCORRÊNCIA. NÃO ECONOMIZAREMOS NISSO” ?
Ah!, e quantas vezes seu cliente mandou você retirar uma ambulância, diminuir o número de seguranças e/ou brigadistas? Quantas e quais empresas verificaram no seu projeto de tenda se o número de saídas de emergência era adequado ao público presente? Quantas checaram se as saídas estavam realmente sinalizadas na cor devida e na posição certa, se os extintores estavam em lugar correto, com a validade verificada, em condições de uso?
Quantas exigiram briefing de segurança no início de seu evento, treinamento e exercício do pessoal responsável pela segurança? Se você respondeu UMA, parabéns, é o que a maioria responderá e olhe lá.
Quando o cliente possui em sua Área de Marketing profissionais despreparados ou desqualificados, júniores em sua maioria, desconhecedores do que é, de fato, um evento, por economia na área, corre (e coloca gente em) riscos.
Quando esses profissionais impõem, às agências, briefings e concorrências mal escritos e incompletos, onde o preço é o que determina o ganhador, o valor de uma vida humana é subdimensionado, como aconteceu num evento recente no Rio, onde, por falta de verificação de segurança, uma estrutura caiu, tirando a vida de uma pessoa.
Quando uma agência, por força desse tipo de atitude do cliente, se submete e contrata produtores, criativos e atendimentos “baratos”, está colocando nas mãos de gente despreparada gente que devia estar tranquila e segura com eles. É também responsável por tudo que vier a suceder, porque o cliente dirá: “Eu não mandei fazer isso não!” Mesmo que tenha mandado.
Em resumo, devemos apenas nos valer das lições que a vida nos dá, sequencialmente, como bem coloca o texto da Ariane. Devemos fazer como a Mari Pessoa ao dizer um sonoro NÃO a um cliente que queria reduzir custos cortando na segurança.
Devemos fazer como fazem grandes agências do Brasil – não vou citar nomes, porque existem muitas, graças a Deus, e todo mundo sabe quem são – e por isso são grandes, e nos recusarmos tanto a participar quanto a fazer idiotices que coloquem em risco nossos eventos e ações.
Devemos fazer como fazem alguns produtores que preferem ficar sem trabalho a trabalhar com gente pouco profissional, aviltando sua remuneração e indo contra sua formação, consciência e experiência, ou a fazer eventos para agências “toscas” que vivem de artimanhas para ganhar concorrências às custas de detalhes sórdidos. Que colocam em segundo lugar seus nomes, sua profissão e suas próprias agências – mudam nomes para continuar participando das concorrências – com conivência, é claro, de alguém de dentro.
E tudo isso já falei de diversas formas em textos anteriores pra vocês, com maior ou menor ênfase. Talvez hoje possa ter sido mais duro, quem sabe injusto, ou mesmo passional em alguns momentos.
Mas é que, definitivamente, tenho profundo amor pelo que faço e me deixa pasmo ver coisas que denigrem a imagem de clientes, agências e promocitários sérios. Mais que isso, não consigo entender que alguém que viva de fazer ações e eventos ao vivo, no Live Marketing, pra gente, não pense, em primeiro lugar, em gente, em seu bem-estar, sua diversão, sua vida.
Exagerei? Desculpem. Você achou que não? Beleza. Então, que tal formarmos por aqui um grupo de discussão, que eu prometo levar para a Ampro analisar, falando de segurança em eventos, propondo algo?
Porque eu crio e produzo eventos para angariar, e ver, sorrisos e felicidade, e não para ficar rico às custas da dor e da tristeza.
Silêncio agora, um minuto, porque esse texto também é uma homenagem singela. Vamos calar agora, em prece e reflexão, para que nunca mais fiquemos em silêncio constrangedor.
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