Experiência de Marca

Mas você não percebeu?

Tinha acabado de ganhar mais uma função de gerenciamento no marketing da empresa.

Lançamento de produto – Abril 1994

Tinha acabado de ganhar mais uma função de gerenciamento no marketing da empresa.

 Agora, além de minhas tarefas, tinha que tocar o marketing de cartões.

Grande desafio, estávamos prontos para lançar o nosso produto internacional e recheado de diferenciais em relação ao mercado.

Mas estava chegando na empresa, e tinha que desenvolver meus acordos de serviço.

Foi melhor do que eu esperava, pois substituir quem não aparece e não performa é muito simples. Basta chegar no horário e entregar tudo no prazo que você já sai no lucro. Para começar a entrar no time é ótimo.

Mas um detalhe me assustava; nos últimos 9 meses passaram pela área, 3 profissionais.

Média de 90 dias de vida.

Desenvolver estes relacionamentos, com o passar do tempo é que são elas.

Tinha como pares de gestão, um cara comercial que era uma águia; um gerente de produto que virou meu parceiro logo de cara. Ele estava subordinado a uma importante pessoa da relação do CEO da organização.

Em compensação, tive como subordinado, um dos sobrinhos do dono da empresa.

E para tornar tudo mais fácil para a turma de marketing, o diretor-geral era um engenheiro, alemão, das pessoas mais inteligentes que já vi. Mas em relação à minha área, fazia poucas perguntas e todas, sem exceção, tinham números em suas respostas.

Por exemplo: Quanto vai custar? Em que data estará tudo pronto? Qual o headcount que você imagina necessitar para colocar a ideia de pé?

E assim era.

 Números.

Somente números.

Sendo assim, eu e minha equipe tratamos de desenvolver a campanha de lançamento.

Tinha muita sorte, pois naquele momento, a agência que tinha nossa conta era de um dos gênios da comunicação.

Nosso material ficou maravilhoso.

Acredito que nosso chefe tenha adorado pois olhou, deu um sorriso de canto de boca, e não perguntou quanto havia custado, somente quando estaria no ar.

Números!

Como era tradicional, lançar um produto de crédito para a rede de agências, demandava sempre um evento nas principais sedes, onde nossa marca era mais representativa ou tínhamos algum interesse estratégico em pauta.

Lá fomos nós criar o evento e o vídeo de lançamento explicando o novo produto.

Nossa área de produtos tinha lançado mão de um arsenal de termos em inglês e de pronúncia não muito simples para quem não dominava a língua.

Quando nos debruçamos para criar a encrenca, surgiram no cenário da apresentação de TV dois caras que se tornariam famosos. Um deles superfamoso.

Assim, criamos nosso roteiro e com Pedro Bial ficaram todas as falas fáceis, e com David Brasil tudo que era complicado de pronunciar. E combinamos tudo com ele, pedindo inclusive que ele forçasse sua gagueira nestes termos.

Numa reunião de diretoria, fui apresentar todo o nosso planejamento, a ideia do vídeo, as datas e locais e os valores orçados. Seriam 6 eventos distribuídos em 2 semanas.

Quando comecei, logo fui interrompido: 6 eventos?

2 semanas? Não, não.

Vamos fazer todos no mesmo dia.

Foi a única vez que ganhei uma discussão de números.

Não temos diretores suficientes para visitar as 6 principais regionais ao mesmo tempo.

Mas a vitória não foi completa; 2 eventos simultâneos por dia em 3 dias seguidos.

Não se pode ter tudo.

E novamente era a primeira apresentação de um produto que eu passei a gerenciar para toda a empresa. E eu não estaria presente na metade e meu time titular foi quebrado em dois.

Bem, se não tem remédio, remediado está.

Retomei a palavra, e engrenei; agora vou apresentar como será o evento e o roteiro do vídeo…

Interrompido, novamente.

O que terá sido agora?

– Não precisa Luiz. Confiamos em você.

Sei que vai ser ótimo.

 Toca.

Quem é o próximo a falar na reunião?

Mas não quer nem uma palinha do que será o vídeo?

Não é necessário.

Se você e a galera de produtos aprovaram está ótimo.

Passado uma semana, versão final do vídeo.

Entro na sala de nosso engenheiro.

Oi Luiz, como está?

Ah, você quer me apresentar o vídeo. Legal. Mas toma um café aqui comigo.

Boa conversa, sobre tudo que se referia a qualquer tipo de números.

Quando fui abordar o vídeo……Peraí, vou ligar pra turma de produtos vir ver junto.

Mal tive tempo de dizer que eles já tinham visto, e nosso engenheiro se levantou e disse: Ok, vamos ver amanhã. Marque na minha agenda e avisa a turma que eu estou convidando.

Ah, uma pergunta, quanto tempo tem o vídeo?

No dia e hora agendada, todos na sala de reunião.

Nada de nosso engenheiro aparecer.

Meia hora, entra a secretária: ele mandou dizer que foi para São Paulo e que não vai conseguir estar aqui com vocês, e pediu a você Luiz, que acerte com a turma de produtos que por ele fica bem.

Foram mais duas tentativas, sempre os números não me deixando chegar.

Finalmente chegou o dia.

Equipe dividida, os dois primeiros eventos; um no Rio outro em Porto Alegre.

Como sempre, desde muito cedo estou no pedaço.

Tipo, estava marcado para as 20, chegava às 15 horas.

Passamos tudo e ficamos jogando conversa fora.

Às 18h30, entra no salão do hotel, superbem decorado e iluminado, nosso engenheiro.

– E aí Luiz, tudo certo?

– Vai ser sucesso?

– Como está em Porto Alegre? Quantos convidados lá?

– Olha, tudo certo. Não temos registro de qualquer problema.

– Quantas pessoas cabem aqui?

– A que horas está marcado?

Aí meus queridos leitores, um erro grotesco, meu.

– Quer ver o filme?

– Boa ideia.

Se aproximou e de cara deu um bico do projetor. Aquele tipo 3 lentes e que leva 1 hora pra acertar.

E lá foi o projetor e uma lente.

O que tinha tempo, acabou no corre corre de sempre.

Mas não havia terminado.

Começaram os eventos simultaneamente.

No horário.

E aí David Brasil começa a desfilar seu incrível arsenal de tropeços.

No minuto seguinte, trava-se o mais espetacular diálogo deste evento; levanta-se na plateia meu engenheiro-chefe.

– Luiz, Luiz, manda o cara do som empurrar a agulha.

Tá repetindo!

 – Não entendi nada.

– O quê? Não entendi.

– Tá repetindo. É aquela coisa da vitrola quando pega um disco arranhado. Vai e volta.

– Mas é assim mesmo, disse eu.

– Mas como, tá com defeito.

– Não. O cara é gago. Olha como a turma está se divertindo. Vão gravar tudo do produto.

– Gago?

– Sim, gago!

–  Mas você não percebeu quando contratou?