Experiência de Marca

Gravata? Que bravata!

Muitos publicitários famosos como Washington Olivetto e Franscesc Petit a tinham como um elemento icônico, cada um a seu jeito.

Era um ano qualquer entre 1337 e 1453, e a sociedade francesa fica em polvorosa com a chegada de um regimento da cavalaria croata, que contratados como mercenários iriam se juntar ao exército francês na historicamente famosa Guerra dos 100 anos.

Mais do que seu poderio como importante aquisição pelo Rei da França para se impor perante os ingleses, o que mais chamou a atenção dos franceses era que todos os soldados usavam uma peça de roupa incomum amarrada aos seus pescoços.

Dependendo da patente do militar, o tecido era mais ou menos refinado e todos eles possuíam uma primorosa forma de laço. Daí é só pensar que da palavra croata, originou a palavra cravate, que é justamente gravata em francês.

E é aqui que surge uma das versões do surgimento da gravata. Sim, aquela peça do vestuário masculino tão questionada. E digo uma das versões, porque os Guerreiros de Xian, a incrível coleção de esculturas em terracota representando os exércitos de Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China, também possuem em volta dos seus pescoços peças de tecido, o que traria a origem da gravata lá para o período entre 210-209 a.C!

Mas entendendo que é uma peça do vestuário tão antiga e ainda sim tão presente, porque então falar sobre ela? Por muito tempo ela sequer era reconhecida como uma peça de design, ou seja, algo que tivesse realmente uma função atribuída a si, mas há quase 30 anos um jovem designer resolveu contrariar a forte tendência de sua faculdade em desenvolver projetos de produtos como trabalho de conclusão do curso de Design Industrial, e resolveu se apoiar neste prosaico acessório e provar que sim, ela era design, tinha função e podíamos perceber isso claramente ao usá-la.

É interessante ver o quanto a aparência de uma pessoa muda com o uso de uma gravata, ela se alinha, se apruma, enche o peito e assume uma postura de poder. Se tem um desenho mais sóbrio, traz seriedade. Se tem um desenho mais descontraido, desconstrói a imagem do usuário, trazendo criatividade e um ar fresh.

Desatada e ainda no colarinho, passa uma imagem de desleixo, amarrada na testa vira uma profunda afronta de um momento em que se pode tudo e por aí vai quando podemos analisá-la em sua forma, padrões, tipos e também nos seus nós. Tem até aquelas que já vêm com o nó pronto, para vergonha máxima de quem as tem como um acessório bem interessante.

Já chegaram a dizer que ela representa um símbolo fálico, e realmente muitas mulheres que assumiram outro gênero, a usam para marcar sua decisão. Tem gente que a adora, outros a odeiam e todos aqueles que dizem que ela aperta e é desconfortável ainda não entenderam que o que aperta é o botão do colarinho e não a gravata!

gravata artigo dil mota

Muitos publicitários famosos como Washington Olivetto e Franscesc Petit a tinham como um elemento icônico, cada um a seu jeito. Como não esquecer das usadas por Jô Soares ou como não admirar um produto que possa trazer tanta mudança de imagem a partir do seu uso. E você aí ainda criticando a coitada…

Gravata faz parte do pequeno mundo dos acessórios masculinos onde se pode buscar algum tipo de diferenciação. Vamos combinar que diferentemente do universo feminino, os fabricantes de roupas e acessórios masculinos não costumam ser muito arrojados e temos aquele mundo com variações de marrons e pretos, que somente hoje começam a ser questionados com uma nova paleta de cores e novos formatos.

E foi por intermédio dela que muitas gerações de profissionais, inclusive da área de comunicação, conseguiram marcar à distância o seu estilo, a sua vibe, até mesmo a sua profissão e o quanto diferenciados, criativos, inovadores e ousados eram.

Hoje temos o acréscimo dos inúmeros formatos de óculos ou calçados, temos também as tattoos e algumas joias como brincos ou piercings, mas no fim, vemos que as tribos de cada profissão acabam usando sempre o mesmo uniforme.

De longe percebemos que aquele grupo pertence à área de TI, a uma agência de publicidade, a um escritório de advocacia, a uma empresa de engenharia, a um estpudio digital ou ao mundo artístico, entre outros tantos.

Eles usam os mesmos códigos, as mesmas roupas, trazem as mesmas mensagens em suas camisetas, usam as mesmas gírias e expressões, e num mundo onde se busca insistentemente algum tipo de protagonismo, não parece ser uma decisão assim tão estratégica.

Afinal, a gente chega na pergunta: Não importa de qual gênero você é, mas que tipo de “gravata” (conceitualmente falando) você está usando? Ou seja: que tipo de elemento diferencial você faz uso para que possa se destacar no meio da multidão e lhe traga um approuch mais facilitado, uma identificação ao longe ou pelo menos que você marque claramente as pessoas quando elas o conhecem?

Aquele jovem que resolveu ir contra o formato da faculdade de Desenho Industrial e resolveu advogar em prol da famigerada gravata, não só provou que ela era um produto de design, como também tirou a nota máxima e com direito a muitos narizes tortos da própria instituição de ensino, ainda foi ao antigo Programa Jô Soares Onze Meia no SBT e foi entrevistado justamente para falar dela, a gravata.

Acompanhado de sua amiga de projeto Luciana Caparelli e a Tita, a proprietária de uma loja do Shopping Ibirapuera, que hoje, infelizmente, não existe mais e que se chamava curiosamente de Ties & Friends, fez o Brasil conhecer a história deste objeto tão controverso.

Com gravatas e sem bravatas ou sem gravatas e com bravatas, é assim que o mercado de trabalho escolhe novos profissionais, que eles se destacam, que ocupam cargos chaves, que passam a ser líderes e podem incentivar outras pessoas a buscarem também a gravata conceitual que possa fazer com que eles também tragam os holofotes para si.

Espero que da próxima vez que você tiver que usar uma, a olhe com mais carinho e perceba ali no espelho, como realmente ficou diferente. É assim que me sinto quando tenho a oportunidade de usá-la num casamento, por exemplo, a olho lembrando de tudo que estudei a respeito da sua história e da cara do mestre professor quando falei que não iria fazer um projeto de um carro, moto ou lancha, mas de uma gravata.

Me lembro da energia da apresentação do trabalho de graduação e ainda em como foi ser entrevistado pelo Jô e a reverberação por ter aparecido no seu programa. É… realmente a gravata pode chamar muito a atenção da gente.