Experiência de Marca

São Paulo não é o Brasil

Tenho tudo que um típico paulistano tem: como pastel, gosto de sanduiche de mortadela, torço para o Corinthians, e odeio quando os cariocas imitam sotaque dos meus conterrâneos.

Sou paulistano de carteirinha, se é que isso existe. Nasci na cidade, nela fui criado, e nunca me distanciei dele por mais de 30 dias – acho. Tenho tudo que um típico paulistano tem: como pastel, gosto de sanduiche de mortadela, torço para o Corinthians, e odeio quando os cariocas imitam sotaque dos meus conterrâneos. Sou, enfim, um paulistano típico, comum e… Paulistano.

Penso como paulistano, se é que exista um jeito de pensar paulistano, e por isso acreditei, por muitos anos, que São Paulo era o Brasil. Que entendendo o pensar paulistano talvez eu pudesse desenvolver minhas teorias e apenas as adaptar para o perfil dos moradores das demais cidades do país. Pensamento simplista e este meu, né? Mais que isso: pensamento burro. Afinal, nem o maior estágio globalizante do mundo é capaz de pasteurizar comportamentos. E mesmo que conseguisse, quem disse que o meu seria o que daria origem a pasteurização? Por que não eu, o pasteurizado? Alias, por que estas indagações agora?

Elas acontecem agora, depois de ter tido experiência de ministrar o mesmo curso de Live Marketing e Planejamento de Eventos em três capitais, todas com presença de moradores das cidades de suas redondezas. O mesmo curso, mas com respostas completamente diferentes. Algo que não é novo para mim, já que normalmente é isso que acontece, mas que desta vez de alguma forma que chamou ainda mais atenção: o quanto todos diferentes, e o quanto este brasilzão de tamanho continental nos exigenos colocar, ainda mais, no lugar do outro.

Em curso para paulistanos, ficou evidente como os alunos pensam normalmente grande, através de estratégias complexas, enquanto capixabas solucionavam problemas de vendas para suas marcas de forma mais simples, mas também altamente eficiente. Não que o tamanho dos problemas de ambos fosse diferente, mas a forma de os analisar e as ferramentas (ou verbas) disponíveis os sugeria que agissem diferentes. O que funcionava aqui, não necessariamente era bom lá, ou vice-versa.

Até ai, tudo bem. Mas o que me impressionou bastante nestes momentos foi o grau de espanto quando um grupo ouvia a partir de mim o que os profissionais da outra capital costumavam fazer ou pensar em situações similares àquelas debatidas. Notei que o esforço de sair da nossa própria bolha se mostrou sempre delicado e por vezes dolorosos. Talvez por isso alguns de nós (eu, em alguns momentos), olhemos tanto para o nosso umbigo.

Se já sei disso há algumas décadas, hoje, dia a dia, projeto a projeto, proposta a proposta, comunicação a comunicação, post a post, me esforço a lembrar e exercitar: São Paulo, o meu São Paulo, não é o Brasil. O Brasil é ainda maior.

 

João Riva é sócio da DuoVozz Inteligência, planejamento estratégico de marcas e vendas, palestrante e professor de graduação na Cásper Líbero, além de pós-graduação e MBA na FIA Escola de Negócios e UBS – Universidade do Varejo. Co-autor dos livros Trade Marketing – Pontos de Vista Expandidos e Marketing Promocional – Um Olhar Descomplicado.