Experiência de Marca

Carnaval de São Paulo ultrapassa o do Rio de Janeiro

Em trajetória crescente na última década, o Carnaval de Rua de São Paulo dá agora um passo ainda maior, não só em quantidade de blocos e movimentação de recursos, mas em oportunidades de negócios.

Em trajetória crescente na última década, o Carnaval de Rua de São Paulo dá agora um passo ainda maior, não só em quantidade de blocos e movimentação de recursos, mas em oportunidades de negócios.

A festa atraiu a atenção de marcas e ganhou status entre profissionais do ramo.

O melhor do entretenimento está aqui.

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A Prefeitura de São Paulo cadastrou 556 desfiles de blocos neste ano, deixando a festa do Rio de Janeiro para trás com 498 cortejos registrados oficialmente.

A ultrapassagem parecia improvável até o ano passado, quando os cariocas tiveram 608 desfiles, bastante acima dos 491 da Capital paulista. Os blocos do Rio tiveram dificuldade em obter financiamento neste ano.

A folia arrastou uma multidão a partir do bairro de Pinheiro, Zona Oeste de São Paulo (Foto: Edson Lopes Jr.).

Os eventos no Nordeste ainda têm patamar superior – Salvador registrou quase 615 desfiles e Recife, quase 580.

Segundo levantamento da empresa municipal de turismo SPTuris, o evento nas ruas da Capital paulista movimentou R$ 550 milhões em 2018 – ante R$ 314 milhões no ano anterior.

Esse volume de recursos pode crescer mais 60%, conforme as estimativas da professora da USP Mariana Aldrigui, presidente do conselho de turismo da Fecomércio SP.

"Muitos motivos explicam o avanço de São Paulo, como a insegurança no Rio, que faz o turista de outras cidades migrar para cá. Mas é fato que o Carnaval de São Paulo está na moda. Muita gente vai para colocar foto nas redes sociais.", afirma Aldrigui.

O fenômeno impacta negócios de hospedagem porque parte significativa do público vem de fora.

A brincadeira deveria começar na Avenida Brigadeiro Faria Lima, mas em razão da confusão da PM com foliões no Largo da Batata, o cortejo mudou de endereço (Foto: Edson Lopes Jr.).

A pesquisa da SPTuris apontou que, no ano passado, 21% dos foliões paulistanos disseram ter recebido parentes ou amigos que não moram na cidade durante a festa, aumento de quase 50% ante 2017.

O Carnaval deu um pico de demanda à hotelaria paulistana, que costuma ter sazonalidade uniforme ao longo do ano por ser um destino de turismo de negócios.

"A cidade tem um índice mais estável de chegadas de hóspedes durante o ano, comparada a cidades litorâneas, que crescem muito nos feriadões.", diz Leonardo Tristão, diretor-geral do Airbnb no Brasil.

Segundo a Abih-SP (associação de hotéis), há 20 anos, o Carnaval da cidade registrava taxas de ocupação inferiores a 10%. Hoje, as estimativas do Fohb (outra entidade do setor) caminham para 95% de ocupação em bairros que ficam da rota dos blocos, como Bixiga, Jardins, Vila Madalena e Pinheiros.

Para além dos recordes numéricos, o que acontece agora com o Carnaval paulistano é um salto de status. O evento passou a ser visto por grandes marcas e artistas do circuito carnavalesco como experiência obrigatória.

Riachuelo e Nextel

Algumas das maiores redes de vestuário do País, como Renner e Hering pela primeira vez expõem suas marcas no evento de São Paulo.

A Riachuelo, que há mais de dez anos já investia nas festas de Salvador e Recife, decidiu investir em um trio em São Paulo.

Músicos que nunca se apresentaram aqui e blocos nascidos em destinos mais tradicionais entenderam que o público da Capital paulista tomou uma proporção que não pode ser ignorada.

A cantora Preta Gil, que se apresenta há uma década no Rio, fez seu primeiro desfile em São Paulo neste ano.

Outro veterano, Bell Marques, ex Chiclete com Banana, estreou em bloco aberto na Capital paulista.

Assim como na gastronomia, em que São Paulo oferece uma amostra de restaurante de todas as regiões do País, a cidade hoje abriga um pot-pourri de blocos.

Bel Marques faz sua estreia no Carnaval de São Paulo (Foto: Fabio Cunha).

O visitante pôde experimentar do pernambucano Alceu Valença aos cariocas do Monobloco, ou o frevo da paraibana Elba Ramalho e o BaianaSystem, da Bahia.

"Hoje, os blocos de fora têm um olhar de desejo por São Paulo. Querem fazer parte dessa nova cena de Carnaval do Brasil.", diz Felipe Menasche, gestor da produtora de eventos de rua Pipoca.

Neste ano, a Pipoca criou um novo braço de atuação para captar recursos de renúncia fiscal.

Obteve apoio no Promac, programa municipal de incentivo cultural, para financiar um projeto de capacitação e investimento em blocos de Carnaval da periferia, em parceria com a telefônica Nextel.

Skol e Amstel

Mesmo entre as cervejeiras, que têm presença antiga no evento, o investimento ainda avança.

A marca Skol, que entrou com R$ 15 milhões de patrocínio em 2018, neste ano colocou R$ 16,1 milhões.

De largada na Avenida Tiradentes, o trio elétrico do Domingo Ela Não Vai provou que o clima é só de amor em São Paulo (Foto: Nelson Antoine).

Renan Ciccone, gerente de Marketing da Amstel, que investe no evento na cidade desde 2016, mas não revela os valores, diz que São Paulo é o Carnaval para o qual a cerveja destina a maior parte de seus recursos de marca.

"Nosso patrocínio aumenta conforme os blocos já existentes ficam mais parrudos e também conforme nos tornamos parceiros de novos blocos.", diz Ciccone.

O patamar de profissionalização chegou a tal ponto que o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, cujo primeiro desfile aconteceu em 2010, hoje se mantém funcionando durante todo o ano com um projeto social para a realização de shows e atividades gratuitas apoiado pela marca Doritos.

Outro termômetro do aquecimento, o site de venda de ingressos Eventbrite já registra neste ano um volume de eventos ligados ao Carnaval 67% maior do que no feriado do ano passado na cidade.

 O fenômeno extrapola a Capital. No Estado todo, a Eventbrite teve oferta de eventos 123% maior. Além de ingressos para happy hours carnavalescos pelos quais se paga R$ 20, o site tem ofertas de atrações como retiros tântricos de Carnaval fora da Capital, com preços em torno de R$ 2.000 pelos quatro dias.

Pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) estima que, neste ano, São Paulo será o Estado com a maior taxa de crescimento real de receita de atividades turísticas durante o feriado (5,4%), chegando a R$ 1,9 bilhão.

O Rio deve registrar avanço mais tímido (2,5%). No geral, será um feriado promissor no Brasil todo conforme as previsões da CNC.

Finalmente, após uma sequência de três anos de encolhimento, o Carnaval deste ano deve crescer 2% no País, descontada a inflação, levando a uma movimentação de R$ 6,78 bilhões dos serviços voltados ao turismo.

A retomada ainda é frágil se comparada ao tamanho da queda, de 20% nos últimos três anos.

"A previsão de alta para este ano toma carona no processo de recuperação lenta dos rendimentos e na inflação mais baixa, que dá às famílias a chance de encontrar espaço para esse tipo de gasto no orçamento. Mas há outros fatores como o dólar caro, que acaba sendo uma barreira para gastos no Exterior e movimenta mais o turismo interno.", afirma Fabio Bentes, economista-chefe da CNC.