Experiência de Marca

A fome existe o ano todo

As ações de marketing social são realizadas em grande escala na época do Natal. E o restante do ano?


Sou-jornalista há 35 anos, há 12 atuo como editora do Promoview, e, confesso, durante todo o tempo em que me dediquei ao site, o momento que mais me deixou feliz foi quando foi implantado o Canal Marketing Social.

O foco do Promoview sempre foi o mercado de live marketing, no entanto, em longas conversas com o Julio Feijó, criador do site, ambos acreditavam que era preciso abrir um espaço especial para publicarmos as ações de marketing social das marcas.

Fomos o primeiro site a abrir um espaço próprio para essas ações (Veja aqui). O objetivo? Incentivar mais e mais marcas a realizarem ações sociais, e, com isso, além delas estarem contribuindo para a construção de um mundo mais justo para todos, ganham uma mídia espontânea.

Quando chega o final do ano, principalmente nos dias que antecedem o Natal, recebo diversos releases para serem publicados sobre ações de marketing social

Isso-é muito bom. Mas, e no restante do ano? Diminuem enormemente, e, infelizmente, a fome não acontece apenas em datas comemorativas.

Não estou falando especificamente desse ano de 2020, atípico para o mundo todo, e, quando do início da pandemia, muitas marcas mostraram a sua solidariedade. 

Em função do Covid-19, principalmente no início dela em março, muitos outros sites acabaram publicando as ações de marketing social, afinal, grandes marcas se envolveram para ajudar as comunidades mais carentes, os hospitais do SUS, os profissionais de eventos que ficaram sem emprego, e muitos outros segmentos receberam aporte, tanto financeiro quanto de produtos e serviços.

Mas, deixemos de lado o ano de 2020. Vamos focar em anos comuns, onde não havia pandemia e faço a seguinte pergunta: Quanto de verba o departamento de marketing das grandes marcas reserva para ações de cunho social?

Pela minha experiência profissional, mesmo não tendo números exatos, posso garantir que é muito pouco. As ações sociais só aparecem próximas ao Natal ou quando acontece uma tragédia climática ou algo do gênero, que ganha destaque na mídia tradicional, e, sendo assim, as marcas se manifestam.

Essa realidade tem de mudar. Marcas investem milhões no esporte, mais especificamente no futebol masculino, em influenciadores digitais, festivais de música, entre outros, e, em contrapartida, as milhares de ONGs que existem espalhadas no Brasil todo, sejam de crianças, idosos ou pets, estão passando por necessidade.

Muitos podem estar pensando: “Mas isso é obrigação do governo.” Até é, porém, não podemos aceitar a hipocrisia, ou seja, quando é para ganhar mídia espontânea eu ajudo, se isso não acontecer, não há interesse em ajudar por parte das grandes marcas.

Não tenho nada contra as marcas que investem em influenciadores digitais, jogadores de futebol, artistas, e tantos outros que não precisam, porém, não venham com discurso de que não há recursos. 

São raros os influencers que realizam ações sociais, e, quando o fazem, pedem para que seus seguidores ajudem, ou seja, se você doar eu doo. Do bolso deles não sai nada. O mesmo acontece com alguns jogadores de futebol e artistas que criam ONGs, ganham milhões por ano, e pedem para a população ajudar. É sempre pobre ajudando pobre.

Há alguns anos vi um influenciador encher uma banheira com creme de avelã (vou omitir a marca de ambos), para tomar banho. 

Não lembro agora quantos mil potes do produto ele usou para fazer essa ‘brincadeira’ totalmente sem graça, afinal, o produto depois dessa façanha foi pelo ralo.

Será que em algum momento ele parou para pensar nas milhares de crianças que adorariam ganhar um pote desses para saciar a sua fome? E a marca? Pois certamente foi ela quem fez essa doação, teve noção da maldade e falta de bom-senso que estava por trás dessa atitude? Confesso. Era fã do produto. Nunca mais comprei.

Em vista de tudo o que aconteceu nesse ano de 2020, com milhares de pessoas perdendo o seu emprego em função da pandemia, está na hora do oportunismo das marcas ser deixado de lado.

Não adianta ser bom apenas quando um fato isolado acontece. Marca que é consciente, que tem empatia, faz marketing social o ano inteiro.

Promoview apresentou diversas pesquisas sobre o que o consumidor espera das marcas em 2021. A maioria declarou que vai optar por aquelas que se preocupam com o meio ambiente, com responsabilidade social e empatia. 

Fica a dica: Comecem a observar atentamente quais são as marcas que têm realmente em seu DNA o desejo de ajudar a comunidade à qual está inserida. 

Vejam quais são aquelas que investem onde não há necessidade de se investir (alguns esportes, influenciadores, ações de oportunismo), e, boicote nelas.

Em relação aos influenciadores, comecem a prestar atenção também quais são os que têm uma atitude de ajuda ao próximo e quais são aqueles que mostram uma marca apenas por mostrar (muitos sequer consomem os produtos que ganham). Boicote também.

Se queremos um mundo melhor e mais justo, todos temos que fazer a nossa parte.

Feliz Natal! Que o amor e a doação estejam presentes na vida de todos. Não dê sobras. Não espere o Natal chegar para fazer caridade, afinal, a fome existe o ano todo. 

Foto: Reprodução.