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Planeje: Use calendários para ações afirmativas

É importante lembrar que a empresa é um reflexo micro do macrossocial que a rodeia.

Os meses passam e há uma diversidade de eventos que são listados nos calendários, que podem ser datas comemorativas, históricas e até mesmo de conscientização. No entanto, cada vez mais perdemos a conexão com esses marcos e a história vai se apagando.

Vou usar o mês de abril como exemplo. Você provavelmente sabe que dia 1º de abril é considerado, ao redor do mundo, o Dia da Mentira ou Dia dos Bobos, data em que várias peças são aplicadas, inclusive há filmes baseados nesse tema, alguns com pegadinhas macabras.

Confira as Datas comemorativas de Maio.

Confira as Datas comemorativas de Junho.

No calendário nacional, esse mesmo dia é um marco quase desconhecido: o Dia da Abolição da Escravidão dos Índios, promulgada pelo Rei de Portugal em 1680 – fiquei pensando se foi uma coincidência, uma tentativa de ironizar a data ou apenas uma provocação do rei aos jesuítas e colonos que lutavam pelo poder sobre a mão de obra indígena.

Ja-o dia 7 de abril traz três comemorações mais do que interconectadas: Dia do Jornalista, cujo trabalho é manter a sociedade informada sobre tudo o que acontece com imparcialidade e ética; Dia do Médico Legista, que cuida para que cada vida que findou receba um laudo garantindo sua desconexão com a sociedade; e, neste mesmo dia, temos o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, um dos maiores motivadores de suicídios ao redor de todo o mundo. 

Coincidência ou não, esses três grupos se conectam, e, de alguma forma, poderiam ser protagonistas no combate às taxas alarmantes de óbitos entre os jovens vitimados, inclusive à distância, pela internet. 

Faltam informações para ajudar os cidadãos, artigos sérios que auxiliem a identificação de sinais, alertas, pedidos silenciosos de socorro, materiais com linguagem acessível para todas as pessoas.

Nos mapeamentos são apontados os dados sobre perfis sociais, étnico-raciais e etários, além das causas das mortes, que em sua maioria aparecem como estimativas, portanto, faltam estudos documentados e sérios que poderiam nos ajudar a entender os perfis que representam as maiores perdas para a sociedade.

Os jovens muitas vezes não têm noção de cuidado, poucos entendem sua própria agressividade nesta fase, mas poderiam apoiar outros em vez de serem parte da violência. 

Aqui, as empresas podem ajudar a mobilizar com palestras, apoiar entidades que atendem jovens e ainda ajudar a criar ações com interações seguras que os auxiliem a lidar com essa fase de ajuste social, reduzindo as chances de fuga pelo suicídio. 

Apoiar colaboradores com convênios médicos, por meio dos quais possam ter acesso a terapeutas, é outra boa prática.

Não consegui evitar mais um exemplo de abril! No dia 19, temos mais três marcos interessantes: Dia da Resistência Indígena, Dia do Exército Brasileiro e Dia de Santo Expedito, este último muito conhecido por solucionar causas urgentes e até impossíveis! Peço licença pelo sarcasmo poético!

Todas essas datas podem ser revertidas para ações de conscientização social e na empresa. É importante lembrar que a empresa é um reflexo micro do macrossocial que a rodeia. 

Como saber quantas pessoas, talvez até a que fica na mesa ao seu lado, estão sofrendo processos dolorosos e até perdas de pessoas queridas porque não conseguem lidar com as dores, nem ajudar alguém, antes que a pessoa busque o suicídio?

Temos de falar sobre suicídio apenas no Setembro Amarelo? Que ações podemos adotar no calendário da empresa, não apenas para falar da dor e sofrimento, cuja importância é entendermos, mas também abrirmos espaços para falar de felicidade, alegria e rede de apoio para resistir e dar-se novas chances de viver plenamente?

Ao navegar pelo calendário, é certo que vamos identificar outras datas e algumas delas nos chamam a atenção por serem um tanto quanto irônicas ou até mesmo desconhecidas, e que se esvaziam em seu sentido de serem celebradas. 

No entanto, temos outras que realmente devem ser reconhecidas, atreladas às ações para além do mês de celebração, parte integrante do planejamento anual de ações afirmativas das empresas, entidades e até mesmo, em alguns casos, para valorizar etnias e suas ancestralidades. 

Uma pessoa colaboradora que atue com voluntariado geralmente é uma pessoa com a qual a empresa sempre pode contar.

No site https://www.calendarr.com/brasil/calendario-abril-2021/, selecionando Brasil, podemos descobrir datas que desconhecemos. Planejar e organizar ações para dar visibilidade a entidades que atuam para manter histórias vivas é outro caminho que se pode buscar, e algumas podem estar na mesma região que sua empresa, sem que saibam, então vale pesquisar!

Enquanto educadora, acredito que a formação humana deve buscar o desenvolvimento cidadão de cada um. É um conhecimento sem prazo de expiração, e o aprender torna-se ato contínuo que exige um constante ressignificar. 

A empresa tem seu papel social de gerar recursos, é no âmbito corporativo que podemos promover verdadeiras mudanças com metas alinhadas à identidade e aos objetivos da companhia, garantir que seus valores e de seus colaboradores, parceiros, fornecedores e investidores somem esforços para melhorias contínuas dentro e fora da organização.

Usar o calendário para criar ações afirmativas contínuas é importante, é usar de forma estratégica os avanços dos meses e datas marco para ser referência de melhores práticas ao mostrar resultados consolidados para o mercado, em atitudes cotidianas reais para construir um mundo melhor.

 

Foto: Reprodução.