Experiência de Marca

Remar num 8 sem: um barco sem igual

Conseguimos finalmente fazer com que todos se conhecessem e pudessem entender o que poderiam esperar de cada um.

Já estava com saudades de voltar às minhas histórias.

Esta é bastante interessante, pois aborda um ponto que todos falam, mas é impossível de se realizar.

Trata-se de controlar as emoções.

Leia também: Chover no molhado. Mas eu preciso tentar

Meus amigos, ninguém é capaz de controlar emoções. No máximo, conseguimos fazer alguns exercícios, entender como estas emoções afloram e, aí sim, desenvolver um processo de conscientização do que está por vir, depois, gerenciar a sua vontade de reagir, e daí, conseguir um caminho para sair deste ciclo.

Aquela coisa de; eu controlo minhas emoções, balela. 

Dito isto, vamos à nossa história de hoje.

Depois de um período, em que várias empresas foram incorporadas numa só, tínhamos uma área de marketing que, não sabíamos quem era quem, quais os nomes, quais as funções, as habilidades e muitas outras coisas. O que realmente pensávamos era: será que esse aí, ou essa aí, vai acabar ficando no meu lugar e eu vou perder meu emprego?

Nossa!  Como era difícil liderar uma equipe de desconhecidos, que competiam entre si, todo o tempo. 

Um dia, como líder de uma grande área do departamento, fui chamado a uma reunião, com o objetivo de tomar conhecimento de um treinamento, para que pudéssemos então fazer, não só a integração, mas também, conhecer nossos subordinados, principalmente os indiretos.

Muito boa a iniciativa. 

Mas aí veio a dinâmica do que iria acontecer; nossa turma seria dividida em equipes e estas equipes seriam, propositalmente, formadas por pessoas que não se conheciam, e/ou vieram de outra organização. Até aí tudo certo, até porque, o objetivo era este mesmo: integrar, conhecer e criar relacionamentos de trabalho.

Ótimo.

E o processo se daria da seguinte maneira: seriam 5 dias, das 7 da manhã ao meio-dia, para que a tarde todos pudessem dar expediente, e aconteceria, na raia da USP.

Eu achei que tinha ouvido errado. Raia da USP?

Mas não tinha.

A nossa dinâmica era muito simples: vamos aprender a remar. Isso mesmo: remar, num barco com 8 remadores.

Na hora, vem o tal controle de emoções, completamente frustrado. Eu detestava treinamentos onde você era colocado numa situação de total desconforto, para que pudesse se superar.  

Saí do sério. Vocês estão de brincadeira. Tenho problemas de coluna, problemas nas pernas, e um enorme bloqueio para treinamentos deste tipo.

Não tinha atestado médico, licença do INSS, ou qualquer outra desculpa. TODOS iriam participar.

A instrutora ficou, inclusive, preocupada e veio, ao final da reunião, tentar apaziguar os ânimos. 

Minha turma estaria na USP dali a um mês, 4 semanas, 28 dias; não tinha saída mesmo. Passei um mês de ovo virado, pensando naquele dia fatídico.

E chegou.

E lá fui eu para a USP. Completamente de má vontade.

O primeiro dia foi meio vagabundo. Aula teórica, cheia de clichês sobre equipe e outras coisas com menos importância. Minha paciência, zero. 

No segundo, um treinamento mais prático; e no terceiro, fomos para água. A ideia era fazer a raia do início ao fim. Olhei e pensei comigo mesmo: é mole…

Pois é, mas começou o primeiro problema: carregar o barco até a água. Era muito pesado, pois era antigo, feito de madeira ainda, quase uma obra de arte de quem o construiu. 

Antes de continuar, uma informação importante; os recordes dos barcos de 8 remadores são em média, para aquela raia, 5 minutos baixo (até mais ou menos 30 segundos). 

Iniciamos nossa sessão. O objetivo era atravessar a raia e tínhamos cerca de 2 horas, na água.

Acho que não conseguimos passar do meio da raia. Visitamos todas as margens e barrancos da raia. Fizemos o barco andar de ré, girar em si mesmo e, para voltar ao lugar onde embarcamos, precisamos de ajuda.

Não conseguimos chegar na metade. São 120 minutos contra 5 e pouco. 

No dia seguinte, antes de começar, eu estava espumando. Não era possível que uma atividade como aquela pudesse trazer algum benefício para o grupo. Além do que, era frustrante, não conseguimos nem fazer aquele barco andar para frente.

Nossa instrutora foi revezando cada um dos integrantes da equipe, na posição de comando; isto significa, principalmente, dar ritmo à equipe. Esta era a principal tarefa. E fazia toda a diferença, quando todos os 8 conseguiam colocar os seus remos na água, ao mesmo tempo.

Quando chegou a minha vez, o barco estava novamente no barranco. Ela parou o treinamento, me tirou do barco e colocou um de seus instrutores para liderar. Eu fui para o barco da instrutora, a motor, para acompanhar o desenvolvimento da equipe.

Pela primeira vez, naquela semana, achei que estava completamente errado. Era impressionante ver como as pessoas, submetidas a este desafio, demonstravam todo o seu comportamento, o seu potencial para as tarefas que deveriam desenvolver, no dia a dia. Ali, na minha frente, dentro da raia, já dava para ver quem seriam os destaques de nossa equipe e quem seriam aqueles que precisaríamos carregar, caso quiséssemos realmente ficar com eles.

E o que aconteceu? O barco foi e voltou sem qualquer problema.

Mágica? Não. Competência do líder, em saber tirar de cada um, o seu melhor e, é claro, todo o conhecimento que tinha de remo, facilitava, sobremaneira, suas instruções. 

Nossa sessão estava terminando e o exercício agora era eu voltar para o barco, para que pudéssemos então terminar o dia com uma volta completa, agora sem o instrutor.

Por isso é que digo que não temos a menor chance de controlar emoções. Comecei a raciocinar em todas as atitudes que havia tomado até aquele momento e, perceber quão nociva foram, principalmente, na posição que ocupava.

Nós achamos que conseguimos nos trapacear e ficar tudo bem. Ledo engano.

Nossa instrutora se dirigiu à borda da raia, para que eu pudesse trocar de barco.

Me levantei e, quando eu fui colocar o pé na borda, tropecei e cai dentro d`água. Exatamente isso. Percebam a cena.

Uma enorme confusão.

Perdi os óculos e para achar, foi um sufoco.

Minha cabeça passou rente a uma pedra. Mas nada aconteceu. Só fiquei todo molhado. A primeira reação dos instrutores foi: parou, parou. Vamos encerrar por hoje.

Minha reação foi imediata. De jeito nenhum. Vou voltar para o meu barco, com a equipe.

Não, não de jeito nenhum.

E voltamos e terminamos a sessão. 

Naquele dia, saí da USP, um pouco diferente, todo molhado é verdade, mas estava mais tranquilo. Talvez a água fria? Talvez a possibilidade de ter conseguido fazer o barco andar, a turma se unir, se conhecer, se comunicar, se relacionar. 

A partir deste momento, os dois dias seguintes foram sensacionais. O que mudou? O meu olhar para a atividade que estávamos desempenhando. A possibilidade de aprender alguma coisa diferente.

Os resultados, em termos de equipe, foram maravilhosos. Conseguimos finalmente fazer com que todos se conhecessem e pudessem entender o que poderiam esperar de cada um.

Foi uma experiência muito gratificante.

Talvez um dos melhores treinamentos que fiz em minha vida.

No último dia, fizemos a raia em 12 minutos e alguns segundos, o que representava um desenvolvimento maravilhoso, pois na primeira tentativa, em 2 horas, não conseguimos nem chegar à metade do percurso.

O esporte, nos proporcionando experiências memoráveis.