Mídia

Sair das redes sociais não resolve falta de privacidade

Questões relacionadas às redes sociais e privacidade são muito profundas, em especial com relação aos seus impactos.

Por Dra. Karolyne Utomi — KR Advogados — Parceria DASA Advogados

Quem de nós, seja que por um breve momento, nunca pensou em se afastar das redes sociais ou até excluí-las de vez por todas? 

Além de muitas pessoas se sentirem cada vez mais incomodadas com a grande quantidade de discursos de ódio, ou ainda pela onda de vidas perfeitas expostas nas redes, um dos motivos que mais direcionam jovens e adultos para esta atitude é a falta de controle sobre a sua privacidade direta ou indireta. 

Mas será que sair das redes sociais é a solução destes problemas? Muitas pessoas ousam dizer que na era em que vivemos não há mais privacidade, em especial em tempos de pandemia em que até o seu próprio lar passou a ser exposto em reuniões de trabalho.

Sair-das redes sociais não faz ninguém ficar desconectado ou sem exposição. Foto: Pexels

A postagem de uma foto indesejada, um vídeo em um lugar que não gostaríamos de sermos notados, a necessidade de postar imagens no estabelecimento em que está para adquirir descontos, o histórico criado a partir de suas pesquisas, músicas que escuta ou vídeos que vê, e até mesmo a pressão indireta de ter que registrar momentos do seu cotidiano caso esteja em uma rede social, pois mesmo que você não poste, alguém posta e te marca. 

Ao sair para tomar um sorvete com uma amiga querida, ter um registro deste encontro nas redes sociais feito por nós mesmos ou de fundo na foto de um terceiro não parece ruim, contudo, imagine se você sai no fundo de uma foto em um local que você está promovendo uma surpresa a alguém, ou ainda que no meio de uma reunião, sem querer um familiar seu aparece com roupas íntimas e isso viraliza como um “meme”. 

Enfim, as questões que envolvem redes sociais e privacidade são muito mais profundas que os exemplos acima, em especial com relação aos seus impactos, mas fato é que situações como esta geram incômodos quando vivenciadas por mais ingênuas que pareçam. 

Tudo dependerá do lado em que você está ou da situação em si, e não ter o controle sobre o que quer ou não que seja compartilhado sobre sua vida é assustador, e este compartilhamento nem precisa ser em um nível alto de publicidade, basta que seja para uma pessoa ou empresa específica que já pode causar grandes transtornos nas nossas vidas, de forma consciente, ou pior, sem termos consciência total desta exposição. 

É uma ilusão achar que é possível estar off-line sem que seja em uma situação de isolamento em uma mata fechada.

Por mais que você pare de usar o Instagram, Facebook, LinkedIn ou TikTok, ainda assim permanecerá conectado e exposto, pois vivemos em uma era em que tudo se conecta. 

Pense que o seu celular registra a hora que você vai dormir (quando você para de utilizá-lo), a hora que você acorda, quais aplicativos você está utilizando, e ao sair de casa e se sentar em um restaurante, provavelmente necessite da câmera do celular para acessar o cardápio, assim como para estacionar o carro na rua, precisa se conectar ao aplicativo que te disponibiliza os cartões de estacionamento. 

E pode apostar que você estará presente em diversas situações em registros fotográficos no perfil de outras pessoas ou até de estabelecimentos. Ou seja, até desconectados, estamos conectados indiretamente em praticamente todas as situações diárias. 

Sendo assim, é fundamental compreendermos que o desejo de estarmos desconectados ou com a garantia da inviolabilidade da nossa privacidade não depende exclusivamente de nós e sim de todo um sistema. 

Para que tenhamos liberdade de escolhas, como está, é necessário o movimento consciente de todos os que utilizam as novas tecnologias em dois principais eixos. 

Em primeiro lugar, nós como usuários, sabermos que assim como o ambiente físico exige alguns cuidados e ajustes na forma de viver, no ambiente digital, estas configurações prévias também são necessárias. 

Por exemplo, ao comprar um aparelho de celular novo, ao invés de adotar como primeiro passo a instalação de todos os seus aplicativos favoritos, dê um passo para trás e verifique cada uma das configurações de privacidade existentes no aparelho.

Realize este passo com calma e não pule nenhuma informação, pois elas são primordiais para a garantia de uma vida saudável digital. 

Por um outro lado, precisamos exigir que terceiros, em especial as empresas, respeitem nossos direitos no que diz respeito à privacidade, por isso é importante que saibamos tudo o que é ou não permitido, e quais são os reflexos negativos de ações que aparentemente são inofensivas. 

A tecnologia presente na maior parte da nossa vida e o mundo conectado são realidades que dificilmente serão banidas, para não dizer impossível, e na realidade as vilãs não são as redes, a Internet ou a tecnologia e sim o modo em que as utilizamos e permitirmos que os outros as utilizem. 

Todos foram inseridos nesta nova era revolucionária e de grandes benefícios, porém, ninguém foi efetivamente preparado para ela. 

Sendo assim, antes do movimento de “sair das redes sociais”, devemos unir forças para o movimento de “conscientizar para as redes sociais”, seja sob a óptica da privacidade ou ainda todas as outras sombras presentes neste espaço.