Mídia

Polêmica com Monark faz marcas cancelarem o Flow Podcast

Empresas se posicionaram e um patrocinador rompeu o contrato depois que o apresentador disse que a existência de um partido nazista estaria garantida pela liberdade de expressão, o que casou sua demissão.

Na noite de segunda, 7/02, Monark, apresentador do Flow Podcast, defendeu a formalização de um partido nazista pela Justiça Eleitoral.

A declaração polêmica ocorreu dentro do programa, que tinha como convidados os deputados federais Tabata Amaral (PSB-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP). 

O Estúdios Flow soltaram uma nota em que pediram desculpas, principalmente para a comunidade judaica, além de informar que o apresentador foi demitido e que o episódio foi retirado do ar.

Mas aí já era tarde.

A pressão nas redes sociais sobre os patrocinadores do podcast, cobrarem alguma atitude dos patrocinadores diante da fala do podcaster cresceu nas mídias digitais. 

Ao longo do dia, as marcas patrocinadoras do programa começaram a se manifestar anunciando o rompimento da parceria com o Estúdios Flow, a empresa responsável pelo podcast. Já outras, que haviam feito ações publicitárias no ano passado, deixaram claro que não têm qualquer vínculo com o Flow Podcast.

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Monark,-apresentador do Flow Podcast. Foto: Reprodução/Youtube

No mídia kit publicado no site oficial do Flow, o podcast diz que, nos últimos 30 dias, teve 20 milhões de streamings (acessos nas plataformas de áudio digital) e contabilizou uma audiência de 1,3 milhão de pessoas. No YouTube, o canal do Flow, que exibe as entrevistas ao vivo, conta com mais de 3,6 milhões de inscritos e mais de 15,3 milhões de visualizações.

Com essa grande audiência, o podcast já veiculou ações e teve o apoio de várias marcas. No próprio mídia kit, os responsáveis pelo Flow listam algumas empresas como patrocinadoras do programa. Entre elas, estão: iFood, Flash, LTW Consultoria, WiseUp, BIS, Insider, Blaze, Rio Shore, Ragazzo, Finclass, Amazon Music, Amazon Prime Video, Puma, Yuool, Fatal Model e Philip Mead. Algumas dessas empresas, entretanto, deixaram claro que fizeram patrocínios pontuais e que já pediram a retirada de seus logos do mídia kit.

Esse é o caso da Puma, que já se manifestou a respeito do assunto. No Twitter, a empresa de artigos esportivos diz que não é patrocinadora do Flow Podcast e que, no passado, fez uma ação pontual e isolada no programa. “Já havíamos pedido para nosso logo ser retirado como patrocinadores e reforçamos isso novamente.”, escreveu a Puma. Veja:

A Mondelez, detentora da marca BIS, também declara que “patrocinou apenas dois episódios do Flow Podcast, veiculados em 2021 e que não tem contrato com o canal, já tendo, inclusive, sido retirado seu nome do pool de patrocinadores, colocamos erroneamente.”

“Reafirmamos nosso compromisso com a liberdade e o respeito entre as comunidades e os consumidores e não compactuamos com qualquer tipo de discriminação”, declarou a Mondelez.

No início da tarde, o iFood também falou sobre o assunto. Em um post, a marca disse que não mantém mais relação comercial com o Flow e que a decisão de encerrar o patrocínio com o podcast foi tomada, de forma definitiva, em novembro de 2021.

Assim como iFood, Puma e Bis, a marca Ragazzo, do Grupo Habib’s, que é citada no mídia kit do podcast, também usou as redes sociais para esclarecer que não patrocinava o programa. “Esclarecemos que o Ragazzo realizou no passado ações pontuais com o canal e que atualmente não tem nenhum vínculo com o podcast e seus apresentadores.

Outra empresa a anunciar o rompimento com o Flow Podcast é a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ). Em um post no Twitter, a Federação diz que “é contrária a qualquer tipo de preconceito e anuncia o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, responsável pelo podcast Flow Esporte Clube, que transmitia os jogos do Campeonato Carioca.
 

Nota de Repúdio do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR)

O Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) uma organização sem fins lucrativos, pioneira no Brasil e 100% comprometida com a aceleração da promoção da igualdade racial distribuiu nota onde repudia a declaração antissemita do apresentador Monark do podcast Flow que se posicionou a favor da existência de um partido nazista no Brasil. 

Finaliza reforçando que o ID_BR luta diariamente para combater o racismo, a xenofobia e qualquer tipo de preconceito e discriminação existente na sociedade.

A partir campanha Sim à Igualdade Racial desenvolve ações em diferentes formatos para conscientizar e engajar organizações e a sociedade. Busca reduzir a desigualdade racial no mercado de trabalho, como indica o objeto 10 da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

Entenda a polêmica

Tudo começou com a declaração de Monark: “Eu sou mais louco do que vocês. Eu acho que tinha de ter partido nazista reconhecido pela lei”, afirmou Monark, defendendo o “direito” de ser antissemita.

Tabata Amaral respondeu às falas indefensáveis de Monark, lembrando do holocausto que aconteceu na Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, época que ficou marcada pelo assassinato de mais de 6 milhões de judeus.

Kataguiri, por outro lado, reclamou pois, de acordo com sua opinião, partidários do comunismo estariam conseguindo ter mais espaço na mídia do que os que defendem o nazismo.

Ao dar seu parecer sobre a existência do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o deputado disse: “A gente não tem um partido formal fascista ou nazista com espaço no Parlamento e na imprensa”.

Monark respondeu que a existência formal de um partido nazista seria algo garantido pela liberdade de expressão.

Em resposta, Tabata disse que essa liberdade acaba a partir do momento em que se manifesta contra a vida de outras pessoas, reforçando que o nazismo põe em risco a vida da população judaica, ao que o Monark retrucou: “De que forma?”

Com a viralização do episódio nas redes sociais — as palavras “Monark” e “nazista” chegaram aos trending topics do Twitter Brasil desde hoje pela manhã —, o grupo Judeus pela Democracia divulgou uma declaração sobre as afirmações do apresentador.

“Ideologias que visam a eliminação de outros têm de ser proibidas. Racismo e perseguições a quaisquer identidades não são liberdade de expressão”, afirmou o grupo.