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SXSW: inspiração para pensadores de EVENTOS

Essa semana, independente do ramo da editoria, impossível não ter uma menção ao SXSW – South by southwest – festival de inovação, tecnologia, entretenimento e mais um monte de coisas, que acontece no Texas no mês de março.

Essa semana, independente do ramo da editoria, impossível não ter uma menção ao SXSW – South by southwest – festival de inovação, tecnologia, entretenimento e mais um monte de coisas, que acontece no Texas no mês de março. 

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Interessante entender como um evento surge e se torna um dos festivais mais importantes para vários segmentos, seja pelo conteúdo abordado ou pelas provocações criativas tanto nas atrações oficiais e oficiosas, quanto pelas ativações de marca buscando um pouco da atenção e do reconhecimento de inovação de seus produtos.

Além das discussões e tendências abordadas, trago uma breve radiografia para instigar os estrategistas de eventos de plantão:

Agenda-do primeiro evento (1987) e o da última versão (2022) . Fonte site do evento

Austin e o surgimento do SXSW

O SXSW existe desde 1987, acontece na cidade de Austin, no Texas.

É preciso fazer um parênteses para a cidade de Austin que recebe o festival, poderia ser uma cidade genuinamente texana, com country music em toda a esquina, mas não, como o slogan dela diz: Keep Austin Weird, estranha não sei, mas diferente. A começar pela população, o local tem tribos nativo-americanas com espanhóis que se estabeleceram na área no final do século XVII durante missões, depois vieram os imigrantes da Alemanha (que faziam muitas festas), Suécia e do México e, mais recentemente, da Ásia. Esse ecletismo de culturas, impactou muito da diversidade criativa da localidade.

Outro ponto é que nos anos 70, quando músicos do estado começaram a frequentar a capital devido a grande quantidade de jovens, principalmente da Universidade do Texas, haviam interessados em novos tipos de sons experimentais, muitos hippies chegaram por lá impactando fortemente a música e na questão da alimentação, com produtos orgânicos e vegetarianos. 

Outro ponto, existe uma lei de restrição de grande comércio até hoje, então lojas como Macy´s, Wall mart entre outras, estão mais distantes do centro e isso faz com que a economia criativa tenha mais espaço e proximidade com turistas e moradores como opção de compra e modo de vida. 

Mais recentemente, diretores de cinema também se mudaram para lá e empresas com suas sedes no Vale do Silício também tem migrado para Austin, como a Tesla e a Samsung, isso tudo criou uma atmosfera rica para que um festival de inovação tenha encontrado a sede ideal e solo fértil para as discussões de tendências.  

A ideia do festival surgiu quando Roland Swenson, que trabalhava num jornal em Austin, foi desafiado pelo pessoal do New Music Seminar (NY) para que ajudasse a organizar uma extensão do festival de música em Austin. 

Nessa época, Austin, não era o circuito de música que é hoje. Ele não topou, mas teve um insight e criou um evento com uma série de debates sobre o futuro da mídia e do entretenimento na cidade. Swenson, com mais 03 amigos Louis Black (editor e co-fundador do jornal), Nick Barbaro (Publisher no jornal) e Louis Meyers (músico e empresário de artistas), então criaram o South By Southwest, nome inspirado na peça North by Northwest, do diretor Alfred Hitchcock, trazendo um certo humor negro na proposta? Talvez, rs! Na primeira versão esperava-se 150 pessoas e surgiram mais de 700 participantes, em 15 pontos de atividades espalhados em supermercados, estacionamento, salas, bares e escolas com palestras e shows. 

Na segunda edição em 1988, houve participação de atrações de outros países já dando uma cara de festival ao evento, e de 77 atrações musicais foi para 415, além de dobrar o número de palestras para 32.

Como os artistas começaram a ter notoriedade e serem contratados para as gravadoras, aumentou mais ainda o interesse em bandas e músicos de participarem do evento. Na década de 90 com nomes reconhecidos como Willie Nelson e a palestra do governador do Estado do Texas, a importância e impacto do evento pede um espaço mais estruturado e passa a ocorrer no Austin Convention Center.

Em 94, além da aparição de Johny Cash e a desconhecida banda Hanson, um novo sub-evento foi inserido: o de multimídia e cinema, com isso a “galera” do áudio visual e tecnologia também começou a frequentar o festival. 

Surgia a configuração de SXSW Film (posteriormente com parte humorística de stand up e Episodic, para séries com vários previews) e SXSW Interactive surge e depois SXSW Games. A participação de empreendedores, pesquisadores e futuristas como palestrantes de todos os níveis, desde os idealizadores do Twitter, artistas, presidentes e alguns ganhadores de Nobéis.

Já em 2013, agencias de publicidade e representantes de altos cargos de empresas palestravam e frequentavam o evento e os números de participantes eram de 30.000 pagantes, mudando a cara mais alternativa do evento, sem tirar seu ar provocativo e inovador.

Hoje SXSW é considerada a meca das tendências, providencial para empreendedores, palco para artistas e marcas e inspiração para qualquer profissional, inclusive para os de EVENTOS seja pelos temas abordados ou pelo formato de programação.

Quantos eventos no Brasil não existem idealizados por faculdades, empreendedores, incubadoras, visionários e podem receber um aporte, uma organização mais profissional e patrocinadores que tenham o ambiente propício para suas ativações?!?

Além das cidades que tem o DNA da economia criativa e já tem histórico de eventos com suas atrações regionais que possam desenvolver a discussão de diferentes temas somados ao perfil de entretenimento de algumas vertentes locais?!?

Como podemos provocar a participação de diferentes perfis, gerações, tribos em nossos eventos?!?

Organização e os números do festival

Um evento de 10 dias, com palestras, workshops, apresentações performáticas, festas e projeção de filmes, tem na quantidade de sua programação oficial e oficiosa algo aflitivo: o espírito de FOMO que impacta à todos, mas a perspectiva de 04 grandes áreas e 15 categorias (tracks) de temas é um caminho que provoca o interesse de vários nichos de público. Em 2022, foram:

2050, Publicidade e Experiência de Marca, Engajamento Cívico, Mudanças Climáticas, Cultura, Design, Indústria do TV e Cinema, Futuro da Música, Indústria dos Games, Technologia para a Saúde, Produção de TV e Cinema, Indústria da Mídia, Startups, Indústria da Tecnologia e Transportes.

Outra novidade foram os Summits, painéis mais curtos que abordaram: investimento, espaço, o futuro do trabalho, VR, esportes, cannabis e psicodélicos.

SXSW virtual e no metaverso – Fonte site SWSX 22

Além dos temas, os conferencistas são referências do mercado, líderes aclamados, pesquisadores e expoentes, mas nem só de famosos é feita a programação do evento, em 2019 foram 5000 falantes, o número oficial de 22 ainda não havia saído. Outra oportunidade para todos é o PanelPicker, onde os participantes no SXSW podem participar de um processo on-line indicando suas propostas de conteúdo/palestra e isso é votado pela comunidade e pelo board consultivo. Já pensou você pode ser o próximo? Aliás o Brasil, este ano, esteve presente em muitas sessões, principalmente relacionadas a economia criativa e ações sociais.           

Para esta versão, havia uma expectativa grande, pois em 2020 o evento não aconteceu devido a pandemia e em 2021 foi de forma on line e não teve tanto impacto quanto as versões presenciais anteriores e em 2022 foi a primeira vez no formato híbrido (on line e virtual), desafio grande para a Penske Media (donas da Rolling Stone, Billboard e Variety) que entrou como como sócia com 50%, junto com os sócios fundadores, isso ocorreu pela oportunidade de mercado, mas também pelo tamanho que o evento se tornou e pelo baque de 02 anos sem acontecer a versão presencial que debilitou as finanças do grupo.

Considerando que em 2019, o impacto econômico do festival foi de US$ 355 milhões, o maior desde 1987 e com uma média de fluxo de 400.000 pessoas em uma semana na cidade, Austin agradece por cada turista (mais de 100 países), bem como os staffs que vem para trabalhar.

Aliás, a data escolhida de março, tem um motivo especial, pois aproveita o Spring Break, quando os universitários americanos têm uma semana livre para celebrar o início da primavera, muitos deles atuam como voluntários pois tem a oportunidade de trabalhar e acompanhar algumas sessões do evento, talvez uma boa chance já que por mais que existam atividades gratuitas, o diferenciado é a parte paga, em média um badge (inscrição) sai por volta de R$ 5.000,00, sem contar hospedagem/passagem/alimentação/transporte, portanto não é para qualquer um participar do evento.

Alinhar essa grandiosidade de programação não só no Austin Convention Center e nos outros espaços, bem como a curadoria dos convidados, grupos de start ups e temas emergentes é um grande desafio desses produtores, bem como manter vivo o interesse pelo evento constantemente para que a próxima versão seja mais sucesso ainda.  

Algumas ações que podem ser replicadas ou adaptadas em nossos eventos, como:

  • Facilitar a participação dos inscritos com manuais, dicas e divisão por setores temáticos e não conflitantes quando sinérgicos;
  • Oferecer material para acompanhamento posterior ao evento, como reports e gravações.

Como o relatório de Tendências Tecnológicas de Amy Webb recordista em participação nos palcos do evento.

https://futuretodayinstitute.com/trends/

O After pass, é um produto com a possibilidade de compra para os que não puderam participar

https://cart.sxsw.com/products/reg-sxsw-online?_ga=2.99858206.1011203769.1648073810-33890695.1647117200

  • Programa de voluntariado, pode baratear os custos, mas necessitam de um programa de treinamento, parceria com instituições e marcas para amenities, além de cativar novos e futuros inscritos. Aliás todo ano com uma festa específica aos colaboradores com marcas patrocinando.
  • Cada vez mais a co criação é engajadora, criar programas de votação de temas, sugestão de falantes e espaços livres de fala como um “Speaker Corner”
  • Com a quantidade de temas e conferencistas pode haver oportunidades para aprofundamento em certas temáticas e desdobramento em eventos mais específicos

Para você que acompanhou de longe ou foi ao SXSW 22, o que mais poderíamos replicar ou adaptar em versões de eventos brasileiros ?