Experiência de Marca

A marca que marca

Baseado em fatos reais, e, claro, que qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos, marcas, empresas, produtos ou situações da vida real, não será mera coincidência.

Baseado em fatos reais, e, claro, que qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos, marcas, empresas, produtos ou situações da vida real, não será mera coincidência.

O profissional de criação eram fã daquela marca. Admirava seu posicionamento, seus comerciais, seus produtos, o cuidado com a embalagem, enfim, não tinha nada na comunicação dela que ele não considerasse um exemplo de design, branding, marketing, e, principalmente, de posicionamento, pois ela tinha um compromisso com o mundo, as pessoas e tinha isso como bandeira.

Ele já tinha visto que ela estava instalada em um edifício incrível, de arquitetura arrojada, mobiliário assinado, luz projetada para a economia e ao mesmo tempo conforto visual, enfim… o devido lar para uma empresa que prezava tanto pelas pessoas. E, com uma certa inveja, que alguns chamavam de branca, ele pensava: um dia quero trabalhar para eles.

Bem, esse dia chegou! Recém-chegado em uma nova agência, recebe o convite para pegar um briefing na empresa que ele sempre sonhou atender.

Entorpecido pelas mensagens da marca e dos seus produtos, num surto se imaginou chegando naquele prédio incrível e todo ecológico, recebido por recepcionistas sorridentes, sendo servido por chás e sucos, além de uma mesa com frutas de todo o País, enquando sentava-se numa cadeira incrível do mais renomado designer do Brasil e do mundo.

E mais: imaginou a cliente chegando e jura que havia uma luz por trás dela, ela vinha sorridente, feliz e com um ar leve e cumprimentando-o como se já o conhecesse fizesse uma proposta incrível: “O dia está tão lindo, vamos fazer a reunião lá fora no gramado?”

E ele, completamente embevecido, a seguia, encontrando uma toalha montada no chão, com sucos, frutas, castanhas, um incenso aceso e o som dos passarinhos a emoldurar o briefing dos sonhos, a reunião mais incrível de sua vida e o encontro dele com a marca que tanto o marcava e que ele desejava há muito tempo conhecer.

(pausa agora para aquele ruído de disco arranhando)

Mas voltando do sonho, ele se viu chegando no prédio (que era até bonito), aquela burocracia para passar pela catraca do estacionamento, a dificuldade em encontrar uma vaga, a impaciência das recepcionistas, um cafezinho meio frio daquelas máquinas automáticas, pessoas passando apressadas e que pareciam aborrecidas e por fim chega a cliente.

Foi até simpática, mas protocolar. Cumprimentou, mas sem grandes emoções. Guiou-o para uma sala comum e nada inspiradora, passou o briefing de maneira objetiva e pontual, mostrou uma certa pressa em terminar a reunião, desconversou quando ele tentou falar do prazer em estar ali e atender a empresa que ele tanto admirava, e, por fim, trouxe um prazo absurdo de se cumprir para o tipo de qualidade de entrega que ele gostaria de dar, além de dizer que, além dele, mais outras agências participavam desta concorrência.

Respirou fundo, saiu dali em conflito com o que sonhava e o que via, mas resolveu relevar e levar adiante o seu sonho: ele iria fazer o projeto mais criativo, legal, completo e estratégico nesta concorrência.

Por um instante não se importou em participar de um processo tão desnecessariamente amplo, porque ele amava a marca, ela o havia marcado incondicionalmente, e ninguém saberia imprimir um sentimento tão bom neste projeto como ele mesmo iria.

O job não foi recebido com alegria pela agência. Um misto daquela frieza de tantos projetos diários, com prazos apertados, budget que não era suficiente e um briefing que basicamente não dizia muita coisa.

Mas ele foi em frente, pesquisou profundamente, com bom humor e energia envolveu e pilhou a equipe a acreditar neste projeto e trabalhando até tarde, como uma viradinha de noite na véspera, foi feliz e realizado apresentar o projeto para a marca dos seus sonhos.

O procedimento de entrada era o mesmo, a recepção pelo visto tinha como padrão não ser tão receptiva, a agitação no ar continuava e pessoas cabisbaixas também continuavam passando apressadas.

Levado à sala de apresentação, ali encontrou muitas pessoas, eram uns 15. Cordiais no cumprimento inicial, imediatamente voltaram seus olhos aos laptops abertos às suas frentes, onde freneticamente digitavam de cabeça baixa.

Montou apressada e ansiosamente o seu computador no equipamento de projeção, a primeira tela apareceu, nela ele havia escolhido uma imagem que sintetizava a empresa que ele amava e uma frase de seu escritor predileto que resumia propósito, entrega e resultado.

Respirou fundo e deu um sinal à sua companheira do atendimento para que ela fizesse uma introdução e a partir dela ele seguiria e os encantaria com o projeto dos seus sonhos, para a marca que ele vivia a sonhar.

As quinze pessoas sequer olharam para a atendimento quando ela agradecia a oportunidade e os apresentava. Deviam estar finalizando um e-mail ou dando um send ele imaginou. Deu uma coçadinha na garganta, respirou fundo, olhou para a tela e disse um sonoro bom dia, que não teve resposta, mas isto não o impediu de engatar uma quinta e desfilar nos minutos seguintes a proposta e a solução do briefing proposto.

Ele ainda imaginava que como alguns animais marinhos, eles em alguns momentos deixariam a posição de cabeças abaixadas e as erguessem, como que para buscar mais uma dose de oxigênio, e assim o visse.

Mas nada disso aconteceu, parecia que ele apresentava um projeto para pessoas que não estavam ali. De vez em quando um ou outro lhe dava uma olhadinha, que rapidamente voltava para o computador quando os olhos deles se cruzavam.

Nada o impediu, porém. Ele foi até o final e triunfal fechou a apresentação, reforçando o quanto queria fazer este projeto para eles. E ainda ressaltou o quanto pessoalmente isto era importante para ele.

As quinze pessoas finalmente levantaram seus pescoços, agradeceram quase que ensaiadamente e em uníssono, voltando para seus computadores.

Ele recolheu o equipamento, na saída ainda deu uma última olhadinha para trás para ver se alguém ainda percebia que ele estava ali e foi embora.

Dias depois, recebeu um lacônico e-mail dizendo que a concorrência havia sido ganha por outra agência e que a sua proposta não mostrava alinhamento com as expectativas da empresa. E que contavam com eles para uma próxima oportunidade.

A partir daquele dia, ele passou a não consumir mais os produtos que ele tanto amava, começou a questionar o quanto esta empresa era tão boa, fechou os olhos para suas novas campanhas e olhava com desconfiança para aqueles que ainda mantinham uma impressão positiva como ele já havia tido.

Pouco tempo depois, soube que a empresa andava com problemas. Sucessivas trocas de direção, cortes, saída de pessoal estratégico, mudanças bruscas de posicionamento e a adoção de alguma tendência nova no mundo dos negócios focada em “enxugar a máquina” e buscar “alta rentabilidade”.

Mas nada disso mais importava para ele, ele já havia se desiludido, era uma marca como outras tantas e outras mais que depois conheceu, não precisava consumir seus produtos, não tinha porque mais ser um heavy user, e, tristemente, entendeu o quanto a imagem que eles construíam para fora não condizia com o que eles eram por dentro.

Não foi a primeira decepção amorosa de mercado. Muitas outras se seguiram, até ele decidir ser apenas profissional. Entregar o seu melhor, com qualidade, mas sem precisar mergulhar tão fundo e nem se envolver emocionalmente.

Era estranho fazer isso, porque parecia uma traição aos seus princípios e isso soava mais estranho quando a liderança da agência pedia fortemente para a equipe: envolvimento, paixão, “dor de dono” e entender que os clientes precisam ser sentidos, entendidos e consumidos.

De consumidor, passou a ser consumido. Cansou, definhou, se entristeceu e até se arrependeu de não ter tentado ser outra coisa, seguido outra profissão ou quem sabe até, pensou ele, tentar agora depois de tanto tempo uma guinada, mudar o caminho, descortinar outros horizontes.

E lá se foi ele: profissional íntegro, culto, bem informado, tecnicamente capaz, apaixonado pelo que fazia, comprometido e profundamente engajado, buscar um novo caminho.

Um lugar onde ele poderia encontrar novamente um motivo, uma razão ou um propósito. Que pudesse ver ali a oportunidade dele fazer a diferença, quem sabe encantar e o máximo dos máximos, se sentir feliz e fazendo o que gosta e se preparou tanto tempo para fazer.

Continua ressabiado com produtos e marcas, mas o que no fundo ele mais queria era sentir como seria bom trabalhar por algo que realmente faz sentido: achar no meio deste mercado tão louco simplesmente o que ele chamava de “MARCA QUE MARCA”.

Ainda não entende como ele, profissional do mercado, não era visto também como consumidor, um formador de opinião, um gerador de tendências e um influenciador com todo o poder que isto significa.

Recentemente, em um chopp animado com amigos de profissão, comentou esta história e descobriu que muitos haviam passado por situações parecidas.

Eram marcas de bancos, montadoras, produtos de beleza, bebidas, serviços, devices, operadoras de celular, restaurantes, grandes eventos e até mesmo algumas agências.

Todos elas haviam sido grandes amores destes caras e de outros tantos. Elas os marcaram profundamente e ainda marcam. Mas. infelizmente, hoje o sentimento é bem diferente!

 

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